São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Slater quer ser o novo Harrison Ford

VERONICA CHAMBERS
DA "PREMIÈRE"

Chove forte em Los Angeles. No set de seu 21º filme, "Murder in the First", Christian Slater procura manter-se seco dentro de seu trailer.
A tarefa de Slater consiste em subir correndo cinco lances de escadas do centenário edifício Bradbury. Não é algo que ele esteja antecipando com prazer, diz, acendendo mais um Marlboro.
"Eu fumo demais", afirma, olhando desejosamente para os quatro maços em cima da mesa.
Slater está com 24 anos. Chegou à fama adolescente com filmes como "Atração Mortal" e já amargou uma grande cota de fracassos.
Ele já demonstrou ter um fraco por mulheres e álcool, sem sucesso em qualquer um dos casos. Agora está sóbrio e trabalhando para dar novo impulso à carreira.
Aos olhos de Slater e de todos que o cercam, existe o velho Christian e o novo Christian.
O primeiro indício de que você está falando com o novo Christian é o fato de ele chegar ao local marcado na hora marcada e sozinho.
"Realmente passei por uma fase de muita irresponsabilidade, quando fazia o que queria e nada mais. Eu achava que a carreira tomaria conta dela mesma."
E foi isso que aconteceu –por algum tempo. Slater iniciou sua carreira ainda criança no palco e foi aclamado pela crítica por sua atuação em "O Nome da Rosa".
Dois anos mais tarde, aos 18 anos, conseguiu o maior papel de sua carreira: o diabólico J.D. de "Atração Mortal".
Comparações com Jack Nicholson foram traçadas em uma associação de idéias que o próprio Slater ajudou a incentivar.
Ele admirava não apenas o trabalho de Nicholson como ator, mas sua ética de trabalhar duro e divertir-se a valer.
Como diz seu personagem em "Amor à Queima-Roupa": "Viver intensamente, morrer jovem e deixar um cadáver bonito".
Mas algumas coisas ruins lhe aconteceram no caminho da imortalidade. Suas farras tornaram-se descontroladas e sua prisão, em 1989, por dirigir alcoolizado, transformou um problema pessoal em presente para os tablóides.
Ainda mais prejudicial, para os padrões "hollywoodianos", foi sua participação em uma série de maus filmes. Atualmente, Slater afirma que a situação é outra.
O novo Christian aceita ser coadjuvante em "Jimmy Hollywood" para "criar um bom relacionamento" com Barry Levinson, vencedor do Oscar, e assume o papel mais ou menos pequeno de River Phoenix em "Entrevista com o Vampiro", de Neil Jordan.
E encontra-se em andamento seu papel principal em "Murder in the First", um drama de tribunal e prisão ambientado nos anos 40.
Slater promete fazer concorrência a Brad Pitt e Keanu Reeves, alguns dos poucos atores jovens que conseguem atirar, agarrar a garota e contar uma piada.
Sua mãe, Mary Jo Slater, comenta os perigos de introduzir o filho no meio cinematográfico:
"Você não quer colocar alguém que ama em uma situação em que pode sofrer uma rejeição."
Sentada num escritório dos estudios Walt Disney, onde está escolhendo o elenco de um filme, Mary Jo Slater é tão protetora e orgulhosa de seu filho quanto em 1969, quando escreveu em sua certidão de nascimento:
"Christian Michael Leonard Slater/ Não existe ninguém melhor."
Seu pai é um ator da novela "Ryan's Hope". Ele e Mary Jo se divorciaram em 1976.
"É difícil lidar com pais divorciados quando se é criança", diz. "Há tanta raiva no ar e pouca sanidade. Fiz o melhor que pude."
Slater teve sua primeira grande chance aos nove anos, quando Michael Kidd o escolheu para co-estrelar a turnê de "The Music Man", ao lado de Dick Van Dyke.
Com o sucesso do peça, Slater se matriculou na Escola Profissional Infantil de Nova York.
Em 1984, foi escolhido para "A Lenda de Billie Jean", um filme adolescente com Helen Slater (nenhum parentesco) como sua irmã.
O importante para Slater era que as filmagens seriam no Texas e que ele não precisaria voltar para casa e mamãe no fim do dia.
Como iria acontecer outras vezes, Slater se apaixonou pela estrela do filme. "Achei que ela era a mulher de minha vida –afinal, temos o mesmo sobrenome!" Mas Helen rejeitou seu jovem colega. "Foi brutal" diz ele, seriamente.
Ele começou por mergulhar na "dolce vita" enquanto estava na Europa para as filmagens de "O Nome da Rosa".
O filme foi estrelado por Sean Connery e valeu elogios da crítica a Slater. Foi em Roma que Slater começou a apreciar a bebida. "O primeiro gostinho de liberdade foi tão bom que eu exagerei", diz.
Aos 17, Slater saiu da casa da mãe e foi morar com uma mulher. O problema era que seu dinheiro acabara.
Então, ele fez dois filmes por dinheiro: "The Wizard" e "Contos da Escuridão 1", antes de trabalhar no filme que iria transformar sua carreira.
"Atração Mortal" (1989), uma comédia de humor negro, foi aquela rara exceção: um filme com influência muito além de sua bilheteria, de US$ 1 milhão.
Mas o autocontrole de Slater começava a enfraquecer. Durante as filmagens de "Atração Mortal", ele namorou Winona Ryder. "Foi por duas semanas, e ele quebrou meu coração", ela disse.
A festa acabou no dia 29 de dezembro de 1989. Enquanto andava a 80 km/h em Hollywood, em uma rua de velocidade máxima de 55 km/h, Slater, então com 20 anos, tentou correr mais do que um carro policial, entrou numa viela e bateu num poste telefônico.
Para piorar, ele saiu do carro, tentou escalar uma cerca e lutou com os três policiais que foram prendê-lo. "Foi o fundo do poço".
"Na volta ao trabalho, nas filmagens de `Coração Indomável', minha vida ia às mil maravilhas".
Mas então chegou "Amor à Queima-Roupa", com roteiro de Quentin Tarantino. "Minha vida virou uma bosta".
O principal motivo foi o fim do longo relacionamento com a atriz Nina Peterson Huang.
Hoje, há momentos em que Slater acredita que corre o risco de recair em hábitos antigos.
"Eu era o tipo de cara que tomava uma garrafa de tequila e ficava sem fazer nada. Eu percebi o quanto aquilo não era saudável."
A morte recente de River Phoenix agravou os temores que levaram Slater a frequenter os Alcoólatras Anônimos.
Em termos profissionais, Slater também está mais otimista. Foi nas filmagens de "Jimmy Hollywood" que Slater conheceu seu novo ídolo, Harrison Ford.
O velho Christian idolatrava o rapaz malvado de Hollywood, Jack Nicholson. O novo Christian quer ser o bom rapaz perene, Harrison Ford.
"Ele é o ápice do modelo a se seguir", diz Slater. "Não dá para negar que ele é o melhor herói do pedaço."

Tradução de Clara Allain

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