São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994 |
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Carvalho mostra Pirandello sem máscaras
ANA FRANCISCA PONZIO
"O Homem com a Flor na Boca", produção italiana que permanece em cartaz até domingo no Teatro Ruth Escobar, mostra o depuramento alcançado por Cacá Carvalho num dos espetáculos mais elogiadas do 4º Festival Internacional de Artes Cênicas. "Em `Macunaíma' era como se eu trabalhasse com uma grande orquestra. Em `O Homem com a Flor na Boca' me despi do sabido, do feito e do conhecido para fazer um espetáculo de câmara", diz Carvalho, que hoje se divide entre Brasil e Itália, onde trabalha sob contrato até julho de 1995, no Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale de Pontedera. Com direção do italiano Roberto Bacci, "O Homem com a Flor na Boca" estreou em novembro na Itália. Representada para platéias de 80 pessoas, a peça tem dois personagens no texto original de Pirandello. Na versão de Bacci, o personagem que apenas ouve as reflexões e inquietações do protagonista foi substituído pelo público. Com isso, Carvalho cria com a platéia uma integração em que cada um é espectador do outro, inclusive o ator. No Teatro Ruth Escobar, o público se acomoda no palco, em cadeiras espalhadas de forma desigual. Não há jogos de iluminação ou interferência cenográfica. Como pessoas dispersadas em uma estação qualquer de ônibus ou trem, a platéia serve de interlocutor mudo para o personagem que revela seu drama existencial perante a iminência da morte. Carvalho circula entre o público com a aparência do cidadão comum, sem maquiagem ou roupa teatral. Dirige-se às pessoas sem inconveniências, estabelecendo entre todos a relação de igual para igual. Interpretação sutil, que revela novas nuances do ator que já encarnou a exuberância de Macunaíma, "O Homem com a Flor na Boca" também é uma ótima oportunidade para se apreciar o belo texto de Pirandello. Através de um personagem que se depara com uma doença mortal, Pirandello fala da morte a cada instante que cada um é capaz de viver. No entanto, esse confronto entre vida e morte não é tratado como tragédia, mas como uma teia de emoções delicadas. "A peça cria um clima de enorme franqueza, faz pensar no que em geral nos assusta e deixa todos desnudados", comenta Carvalho. Dedicando-se a espetáculos solo desde 1986, quando estreou "Meu Tio Iauretê", o paraense Cacá Carvalho, 41, vem contando com patrocínio italiano para seus últimos trabalhos. Antes de "O Homem com a Flor na Boca", teve a peça "Os 25 Homens", de Plínio Marcos, produzida pelo Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale, onde também trabalha o dramaturgo polonês Jersy Grotowsky. Contudo, Cacá Carvalho não pretende se mudar para a Itália. "Não consigo ficar longe de certas coisas do Brasil, como Ubatuba, Belém do Pará e São Paulo", diz. Depois da temporada em São Paulo, Carvalho segue para o interior do Estado com "O Homem com a Flor na Boca" (sob patrocínio do Sesc). A partir de 29 de agosto, ele se apresenta em Lausanne, Suíça, na nova peça dirigida por Roberto Bacci: "O Céu por Terra", em que contracena com mais cinco atores. Peça: O Homem com a Flor na Boca, com Cacá Carvalho Onde: Teatro Ruth Escobar/sala Gil Vicente (r. dos Ingleses, 209, tel. 011/289-2358, Bela Vista, região central) Quando: hoje, às 21h, amanhã, às 20h e 21h30, e domingo, às 20h Quanto: CR$ 12 mil Texto Anterior: Gênero é filhote das festas rave dos anos 80 Próximo Texto: Todas escolhas escondem virtude Índice |
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