São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Itamar rides again

Já fazia algum tempo que o presidente da República, Itamar Franco, não exibia publicamente seus súbitos e atrabiliários acessos de ira a propósito de declarações de funcionários do governo. Ontem, entretanto, em mais um de seus já clássicos rompantes, Itamar repreendeu de modo incisivo e desabusado o assessor especial do Ministério da Fazenda Milton Dallari, que cuida, no governo, do acompanhamento dos preços no mercado.
É bem verdade que Milton Dallari atropelou fortemente a hierarquia ao dizer que deveria haver um erro na medida provisória sobre as mensalidades escolares, cujo texto fora assinado pelo presidente da República e por três ministros, todos seus superiores hierárquicos. A crítica é correta mas a forma de expressá-la, de público, é totalmente inadequada, para dizer o mínimo.
Também não resta dúvida quanto à questão da autoridade. Itamar Franco é, goste-se ou não, o presidente da República e, portanto, o responsável em última instância pelos atos do governo. Mas o presidente parece ter um especial fascínio por explicitar o que é óbvio, ou seja, que é ele o presidente da República. O chefe do Executivo dispunha de outras formas de mostrar sua irritação com Dallari.
O presidente só não poderia ter feito o que fez. Afinal, Dallari é o homem que, em nome do governo, negocia com os agentes econômicos a fixação e conversão de preços à URV. A importância de suas funções às vésperas da adoção de um novo padrão monetário dispensa maiores considerações. O que o presidente conseguiu, ao repreendê-lo do modo como o fez, foi apenas minar, num momento especialmente delicado, a autoridade do assessor e, por extensão, de toda a equipe econômica e do próprio Ministério da Fazenda.

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