São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente quer tabelamento dos juros e atropela equipe

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A equipe econômica considera que está perdendo as rédeas do Plano Real. Depois de ter sido atropelada pelo presidente Itamar Franco nos aluguéis, mensalidades escolares e lei antitruste, a equipe encontra-se diante de maior ameaça, o tabelamento de juros.
Itamar pediu ao deputado Benito Gama (PFL-BA) que acelere a preparação de projeto de lei que regulamenta o parágrafo 3º do artigo 192 da Constituição, pelo qual os juros reais (descontada a inflação) não podem ser superiores a 12% ao ano. (Hoje, a taxa de juros dos títulos públicos federais está em torno dos 25% ao ano).
Ocorre que o deputado havia recebido solicitação exatamente contrária do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, isto é, que atrasassee o máximo possível a apresentação do projeto.
Benito Gama preside comissão especial da Câmara encarregada de apresentar o projeto de lei, por determinação do Supremo Tribunal Federal. O primeiro prazo termina no próximo 20 de junho, mas Gama já havia combinado com Ricupero que solicitaria adiamento.
Todos os integrantes da equipe econômica, sem exceção, consideram o maior absurdo a tentativa de tabelar juros. Acham que isso é teoricamente errado, inviável na prática e incorreto politicamente.
Se o presidente Itamar sustenta a visão populista de que os juros altos são provocados pela ganância dos bancos e a cumplicidade do Banco Central, os economistas da equipe acham que as taxas elevadas são consequência do estado inflacionário crônico da economia brasileira.
Mais do que isso, a equipe acha que os juros precisam estar elevados por algum tempo para impedir que a economia se aqueça. Com juros baixos, empresas e pessoas compram mais e isso, no momento, pode gerar pressão inflacionária.
Toda a lógica do Plano Real, enfim, prevê o mínimo de intervenção no funcionamento da economia. E quando é necessária essa intervenção, a idéia é manter a neutralidade econômica, de modo que os contratos na nova moeda guardem o mesmo equilíbrio.
Exatamente o contrário do que se fez na conversão das mensalidades escolares, por inspiração direta do presidente Itamar. Embora silenciem oficialmente, os integrantes da equipe econômica acham que a fórmula de conversão é simplesmente absurda, por considerar a média nominal em vez da média real das mensalidades.
A equipe acha também que a intervenção do Planalto empacou a questão dos aluguéis. E o atraso na definição já deixou alguns pontos de inflação para julho, o primeiro mês do real. Os aluguéis convertidos agora serão pagos em junho, e aí captados pelos índices de preços.
Finalmente, economistas da equipe acham que o estardalhaço armado pelo presidente em torno da lei antitruste só tem um efeito: a remarcação preventiva de preços. Além de criar um ambiente de instabilidade, ruim para a entrada da nova moeda.
Para esses economistas, não é preciso prender empresário para baixar preços. Para eles, os preços ficarão estáveis porque o deficit público está sob controle, a economia contida, sem excesso de demanda e porque real quebra a inércia inflacionária.

Texto Anterior: "Sou o futuro presidente"
Próximo Texto: Ricupero quer Conselho para gerir plano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.