São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Funcionário de hospital morre sem socorro

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O chefe do setor de internação do Hospital Pedro Ernesto, Antônio José Fonseca Ramos Neto, 31, morreu ontem de madrugada no saguão do hospital, em Vila Isabel (zona norte do Rio). Parentes e amigos acusam a equipe médica de não tê-lo socorrido.
Ramos neto morreu de insuficiência respiratória, motivada por crise de asma. Ele chegou ao hospital, onde trabalhou durante 12 anos, à 0h05, cinco minutos após o fim da greve de 48 horas realizada por funcionários da área de saúde do governo estadual.
O Hospital Pedro Ernesto, o maior do Rio, com 3.000 funcionários –700 médicos–, pertence à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Os médicos e enfermeiros realizaram a greve em protesto contra supostas más condições de trabalho.
A greve não foi a justificativa usada pela equipe médica para deixar de atender o paciente.
O chefe do plantão, Guilermo Lopez, e a médica Débora da Silveira disseram que não puderam atendê-lo porque falta ao hospital um serviço de emergência.
Lopez e Débora recomendaram aos parentes que levassem Ramos Neto para o hospital do Andaraí, a 2 km de distância. Não houve tempo. Ramos Neto morreu "após uma hora de agonia em uma maca no saguão do hospital", segundo seus familiares.
A mãe de Ramos Neto, Maria Célia Guimarães Ramos, esteve no hospital de madrugada. Ao saber da morte do filho, sofreu uma crise cardíaca. Também não foi atendida no Hospital Pedro Ernesto. O pai de Ramos, Antônio José, é funcionário aposentado do hospital.
O diretor do hospital, Pedro Paulo Rocha, abriu sindicância para apurar o caso. Ele disse que se ficar provada a falta de socorro os médicos poderão ser demitidos do serviço público.
O secretário-geral do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, disse que o socorro não deixou de ser feito por causa da greve.
"A greve prevê atendimento em situações de risco de vida. Se o paciente estava mal cabia o atendimento", disse ele.
Para Darze, a desativação, há dois anos, do setor de emergência do Hospital Pedro Ernesto criou "um buraco" no serviço médico público da área.

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