São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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O bem comum

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Neste tempo de preparação às eleições, a insistência nos valores éticos e nos deveres da cidadania coloca em especial relevo a referência ao bem comum. A razão de ser do Estado e, portanto, do exercício dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário encontra-se na promoção do bem comum.
Consiste o "bem comum" no conjunto de condições concretas que permitam a todos os membros da sociedade alcançar o nível de vida correspondente à dignidade da pessoa humana. Superam-se, assim, os interesses meramente individuais e de grupos. No horizonte do "bem comum" estão a dignidade de cada um e de todas as pessoas e a construção da sociedade justa e solidária.
Na atual campanha política, buscamos critérios para a escolha de candidatos e partidos. Sem dúvida, são indispensáveis a competência e a honestidade que evite toda corrupção. É preciso mais. Requer-se o compromisso explícito de promover o bem comum, que nasce do amor ao povo sofrido e do anseio de criar condições para que, a começar dos mais necessitados, todos possam viver e se desenvolver.
A fotografia da realidade nacional revela três graves anomalias: a excessiva concentração de renda, terras e poder; o aumento cada vez maior de empobrecidos e a atuação oscilante do Estado, ora omissa, ora desrespeitando o princípio da subsidiariedade que assegura e incrementa a autonomia dos diversos níveis de organização social e política.
Não é aceitável que no Brasil seja tão cruel a distância entre a afluência dos poucos ricos e a miséria dos milhões de excluídos. Diante destas situações, de longa data conhecidas, que fazer? Será preciso criar formas para potenciar o dinamismo que procure a melhor repartição de bens e serviços. Este esforço terá como consequência a inserção dos excluídos nos benefícios sociais. Há duas vertentes neste urgente programa social: primeiro, o socorro imediato aos que estão mergulhados na miséria, garantindo-lhes desde já a sobrevivência e melhores condições de vida; a seguir, oferecer-lhes o que mais desejam: a oportunidade de emprego e salário digno.
As ações de sobrevivência incluem iniciativas simultâneas que assegurem: a) atendimento à saúde do povo, com campanhas de alimentos, tratamento de água, cura de doenças, amplo serviço de medicina preventiva; b) educação básica para todos, utilizando-se os recursos preferencialmente em capacitação de professores, nova metodologia e técnicas de aprendizado; c) construção de casas, valorizando o "mutirão", que multiplica forças e aproxima os futuros moradores.
Quanto a mais numerosas opções de emprego e justo salário: a) atender com rapidez ao homem e mulher da zona rural, assegurando-lhes o acesso à terra e aos serviços de saúde, educação e da tecnologia; b) garantir financiamento para formação de pequenas empresas e cooperativas que desenvolvam as aptidões e formas mais participativas de trabalho. Para assegurar recursos, vai ser preciso punir, com rigor, sonegação de impostos e rever a política tributária.
O compromisso com o "bem comum" se traduz no esforço constante de promover a pessoa humana. Mas somente poderá se tornar realidade quando, dentro de nós mesmos, o individualismo ceder lugar ao amor sincero pelo próximo. Para isso, é necessária a graça de Deus. A oração pelo Brasil cabe sempre. Agora, mais do que nunca.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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