São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994 |
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UM TRECHO DE "CACILDA! ! ! ! "
PARA ANA KENNEDY COM O LUTO FECHADO E OS OLHOS INCHADOS DE CHORAR UM TRECHO DE "CACILDA!!!!"A seguir, um trecho da peça "Cacilda!!!!", escrita por José Celso Martinez Corrêa e que será encenada pelo Teatro Oficina. CORTEJO DE TEATRO POSTHOMAS (É colocada na carroça de Pozzo Mãe Coragem cega guiando, vidente, a carroça puxada pelo Zebu e bodes, restos dos anarquistas sem coroa até o cemitério como uma santa num andor. A Jovem Atriz é enrolada como se fosse Múmia ligada depois pelas ataduras, como um cordão umbilical, em Cacilda. Treplev desaparece no meio dos bodes, e do touro, se mascara. A procissão do enterro de todos os teatros europeus, coros de Paquitas de Pina Bausch, e toda a academia atual, cantando um réquiem minimalista. Ela se debate contra a iconização. Rebelde. Malcriada. No que pode, no verbo). Cacilda (para o Público e os presentes): Erguei-vos, pois viestes para assistir um espetáculo. Ana é minha alma gêmea. Nela estou guardada. Porque entre a vida e a morte estaremos apaixonadas e ligadas. Aconteça o que tiver acontecido. A ti, Ana, nem ouro, nem pedrarias seduzem, presas como jóia, minha lembrança. Tome este lenço. A luz dos meus olhos com ele vendará meus olhos quando o instigante chegar. Mas Godot é Deus? Não, é muito fácil... Se for, não me ponha a venda, ponha em você. Este último serviço me prestarás Ana? Godot! Godot! Está nascendo... Está chegando... Ana reza! Me dá tua mão! Eu te amo. Meu Deus vem vindo. Ela pensa que eu sou santa?! Eu sou má. Tão má quanto você me adora. Só se a santidade for uma questão de quantidade, de intensidade. Ninguém me amou mais, ou mais amou, ou ama e amará como você... Grita comigo. Como as macacas gritam. Emilinha! Marlene! Carmem Miranda tem o seu Fã-Clube. E as Fãs Gritam... Nem Cristo, teve alguém assim como você. Fã, Fã. Tiete. As Macacas gritam, grita comigo. Nós, a santa e anta! Macaca, Amante, Amiga, Irmã, Gêmea, Santa, não eu. Não, tua Paixão vê em mim o que nem eu vejo... Pelo excesso, teu amor sabe tudo... Antes dos críticos, dos historiadores, antes de Deus. Você está me canonizando como Maria Goretti. Não. Aí você está errada. Isso é uma decapitação! Texto Anterior: Oficina encena vida da atriz Próximo Texto: Antonio Kandir busca o consenso perdido Índice |
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