São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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UMA FILHA COM QUALIDADES

Fez, no ano seguinte, "Quatro meninas", adaptação do livro "Mulherzinhas", de Louise May Alcott, com o mesmo Damião –"um injustiçado", segundo ela. "Desde 1981, ele já lotava o Teatro dos Quatro, no Rio, com `Capitães da Areia'. E as pessoas vêm me falar que o teatro para adolescentes surgiu agora?"
Depois, foi dirigida por Naum Alves de Souza em "Cenas de Outono", sobre texto de Mishima –com Marieta Severo no elenco. Fernanda Torres trabalhou com a mãe, Fernanda Montenegro, e não achou nada de mais. Sílvia é diferente: "Melhor não. Foi difícil". Ok, Sílvia ainda não é uma Fernanda Torres, mas também já está além de ser uma Esperança Pêra.
A crítica foi ganha recentemente, quando a filha mais velha dos Buarque encarou uma trilogia com o diretor Moacyr Góes. "O Gigante da Montanha", de Pirandello, "Escola de Bufões", de Ghelderode, e "Epifanias", sobre texto de Strindberg, encerrada no meio de 1993. "Aí, virei atriz mesmo."
Se a crítica foi dobrada no palco, a fama veio da televisão. Em 1986, ela estreou na tela como uma da filhas adolescentes de Maitê Proença na novela "Dona Beija". No ano seguinte, fez "Corpo Santo". Ambas na Manchete. "Trabalhava para caramba", lembra. "Saía às oito da manhã com meu fusquinha 85 recém-ganho, cinza claro e feio que doía, e só voltava à noite".
Tanto suor lhe valeu a ida para a Globo. Em 1988, desempenhou aquele que talvez tenha sido seu melhor papel na TV: Raio de Luar na novela "Bebê a Bordo", de Carlos Lombardi. "Ela tinha asma, era frágil e ganhou o público", lembra.
Desde então, fez "Sexo dos Anjos", "O Sorriso do Lagarto" e "Perigosas Peruas". E um engraçado "Você Decide", no final do ano passado, em que encarnava Lindaura, uma fã enlouquecida do cantor Fábio Jr.
Sílvia não ficou rica. "Deu para guardar algum com quatro anos de contrato na Globo", contabiliza. "Também, nunca fiz jabá", deixa claro. Sílvia refere-se a comerciais e apresentação de bailes de formatura em cidades do interior que atores fazem, aproveitando-se do sucesso efêmero na telinha. "Nada contra meus princípios. Só não tem a ver comigo", avisa.
A atriz pôde ser vista também em maio, na TV Cultura. Protagonizava o terceiro episódio de "Veja Esta Canção", filme do diretor Cacá Diegues. Em "Samba do Grande Amor", era uma escort-girl, Deise, que recebia de um anônimo versinhos apaixonados –tirados de músicas de Chico Buarque.
Agora, está compromissada com Bia Lessa até o fim do ano. "Não dá para fazer planos", diz. "Com o `O Homem sem Qualidades', parei de cursar inglês, francês e canto, comecei a fumar, cancelei o lazer." É tudo ou nada. O objetivo é se consagrar como atriz de primeira linha, filha de quem quer que seja.
Parece que está dando certo. Veja os seguintes depoimentos:
"Além do talento, ela tem um fogo a sério, não é fogo de palha.", diz o diretor teatral Naum Alves de Souza.
"A Sílvia atriz reúne algumas coisas fundamentais: é menina, mas absolutamente pé no chão, sólida. É independente, o peso dela é do próprio trabalho", diz a diretora Bia Lessa.
"Ela é uma das melhores atrizes de sua geração. Deve se orgulhar muito de ser filha de Chico e Marieta, porque só ajuda. Sílvia apreendeu o essencial dos dois e desenvolveu uma personalidade própria. Claro que pensarei nela para meu próximo filme, `Tieta do Agreste"', diz o cineasta Cacá Diegues.
"Passa credibilidade na força e na fraqueza. Nas duas vezes em que trabalhei com ela, em `Bebê a Bordo' e `Perigosas Peruas', foi com a Sílvia Buarque e não com a filha de ninguém. Ela já existe como atriz e gostaria de tê-la em minha próxima novela, `Vira-Latas"', diz o autor Carlos Lombardi.
"Tenho 25 anos. Daqui a pouco vai ser ridículo ficar falando da `pimpolha' do Chico", diz Sílvia Buarque.
Já é.

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