São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994 |
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Caos rege a arte, diz Menninghaus
MANUEL DA COSTA PINTO
Autor de "Fundamentos da Teoria da Arte Romântica" (pela editora alemã Suhrkamp), Menninghaus diz que a idéia de caos adquiriu um sentido ideológico. Foi sobre esta projeção do pensamento científico no imaginário social e artístico que ele falou à Folha e ao professor Willi Bolle, do curso de Língua e Literatura Alemã da USP (que trouxe Menninghaus ao Brasil). Folha - Por que discutir a teoria do caos fora da ciência? Menninghaus - O conceito caos se deslocou das ciências para a consciência comum. Hoje se fala, nos EUA e da Europa, em uma "teologia do caos" e em uma "psicologia do caos". O caos virou uma metáfora "cult". Folha - Isso é uma simplificação da teoria? Menninghaus - A teoria do caos faz ciência sobre o que é imprevisível. A física newtoniana lida com um mundo mecânico, enquanto a teoria do caos lida com a instabilidade do mundo real. Ela nos dá razões científicas para aceitarmos fatos inesperados. É o caso do "efeito borboleta", segundo o qual uma borboleta pode provocar em Los Angeles uma turbulência com fortes efeitos na região de Nova York. A teoria do caos se concentra sobre a não linearidade entre causas e efeitos: pode haver causas mínimas que, conjugadas, produzam efeitos máximos. Transposta para a consciência do homem comum, esta idéia torna "naturais" –porque imprevisíveis– catástrofes como o caos econômico da América Latina ou as guerras étnicas. Folha - Esta simplificação também ocorreu com a teoria da relatividade de Einstein. Menninghaus - Sim, pois o conceito preenche necessidades sociais. Mas a oposição caos-ordem não se restringe a esse uso ideológico por alguns cientistas. Existem representações do caos nas cosmologias da antiguidade e num movimento estético como o romantismo alemão. Folha – Como era o caos na antiguidade? Menninghaus - Na "Teogonia" de Hesíodo, por exemplo, o caos é um abismo escuro, do qual emergem figuras aterradoras, como a Hidra e Cérbero. Existia uma cisão entre o caos (mundo da indiferenciação) e o cosmos (mundo da diferença). Folha - E no romantismo? Menninghaus - Autores como Novalis, Schlegel e Ludwig Tieck representam caos e ordem em uma interação. A abolição das fronteiras entre os dois universos era parte de um projeto utópico de abertura da consciência para novas realidades. No plano político, isto significava anarquia e revolução. Folha - Esta concepção se aproxima da teoria do caos? Menninghaus - Como os românticos, os cientistas pensam caos e ordem dentro de uma oscilação dinâmica. Atualmente, porém, o caos não é uma utopia estética, mas a teoria científica que deveria dar conta de qualquer fenômeno da realidade. O caos está em toda parte. INDICAÇÕES DE LEITURA "Acaso e Caos", de David Ruelle (ed. Unesp) e "Caos: A Criação de uma Nova Ciência", de James Gleick (ed. Campus) Próximo Texto: Bérnaise; Serpentina; Free box; Pôr-do-sol; Baba-de-moça; Plataforma Índice |
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