São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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A bactéria assassina; Leis existem; Mais saúde; Viver de política; Crescimento da miséria; Concurso para auditor; Greve na USP; Contra a discriminação; Poluição sonora

A bactéria assassina
"Largos espaços têm sido dedicados nos últimos meses na mídia nacional e internacional sobre uma bactéria que matou 15 pessoas na Inglaterra. Devemos informar que a tal `bactéria assassina' é um velho conhecido nosso, o estreptococo beta hemolítico, encontrado na garganta, na pele, no ânus e na vagina. Era o terror dos hospitais nas décadas de 50 e 60. Hoje, é recuperado em menos de 1% das feridas cirúrgicas. Contudo, em circunstâncias especiais do hospedeiro (diabéticos, idosos, obesos, operados etc), e na presença de outras condições ambientais favoráveis, como falta de higiene, pode através de mutações (por uso prolongado de antibióticos ou interferência de vírus) causar formas graves de estreptococcias, dentre elas a `fasceite purulenta gangrenosa' que causou mortes na Inglaterra. A probabilidade dessa suposta mutante bacteriana inglesa chegar ao Brasil é remota. Para que causasse uma epidemia teria que encontrar aqui todos os fatores envolvidos em sua patogênese, o que torna a hipótese difícil de ser confirmada. Cabe às comissões de infecção hospitalar dos hospitais brasileiros ficarem vigilantes diante dessa possibilidade.
Ricardo Veronesi, consultor da Organização Mundial da Saúde para doenças bacterianas e assessor científico para assuntos internacionais da Universidade de Mogi das Cruzes (São Paulo, SP)

Leis existem
"Há alguns anos ficou conhecida no Brasil uma frase, atribuída ao presidente Getúlio Vargas, que dizia: `A Lei! Ora a Lei'. Recentemente um candidato à Presidência da República teria dito que `coisa justa vale mais que lei'. De nada valerá para o citado candidato, se eleito e empossado, os poderes Legislativo e o Judiciário. Serão preteridos por `coisas justas'."
Danilo da Mata Ribeiro (Taubaté, SP)

Mais saúde
"Sensibilizou-me profundamente o artigo `Não quero viver da doença' do médico-psiquiatra José Elias Aiex Neto, publicado no Cotidiano em 06/06. De fato, o país precisa de uma nova consciência em todos os segmentos sociais. Mas seria extremamente importante se todos os médicos fizessem uma auto-avaliação e promovessem um verdadeiro mutirão contra a doença, cuidando da saúde do povo e não vivendo da doença."
René Marcio Ruschel (Umuarama, PR)

Viver de política
"O sr. Fernando Henrique Cardoso realmente é preconceituoso. Ainda não baixou a poeira na polêmica com os movimentos negros e vem ele dizer que Luiz Inácio Lula da Silva é político profissional, que vive de política. De que será que vive FHC? Diz ainda que se deixar a política volta a ser professor. Com isso quer dizer que o operário não é um profissional, que se Lula deixar a política morrerá de fome. Banqueiro pode, industrial pode, usineiro pode, professor também pode, agora, ao operário não é permitido fazer política."
João Ferreira da Silva Filho (Ubatuba, SP)

Crescimento da miséria
"O editorial `Vice-campeão da miséria' e o artigo de Abram Szajman `Crônica de uma morte anunciada' (Folha, 2/06) comentam a situação de miséria que atinge grande parte da população brasileira. A ONU nos alerta para a iminente deflagração de um conflito social de proporções inimagináveis. Enquanto isso o governo brasileiro decide retomar as obras da ferrovia Norte-Sul para `ferrocarrear' o apoio de Sarney à candidatura FHC, além de desviar verbas do fundo social de emergência para o Exército e outras áreas não prioritárias."
José Elias Aiex Neto (Foz do Iguaçu, PR)

"Sob o título `Crônica de uma morte anunciada', em 2/06, o empresário Abram Szajman faz uma sensível abordagem sobre as tragédias que se abatem sobre a América Latina. O articulista declara que representa um `empresariado que se sente responsável pelas questões sociais', que todos se escandalizaram com o crime da Candelária e que `escândalo maior foi não impedir que se consumassem'. Muito bem, e qual a conclusão do articulista? Recomenda que cada um de nós faça a leitura diária dos jornais, `para não deixar passar esses sinais terríveis'. Chama a atenção o posicionamento passivo de espectador do representante de uma entidade que declara se sentir responsável pelas questões sociais, num momento crucial em que o desemprego está aumentando, em que a miséria assume proporções de vulto e em que alguma coisa poderia ser feita pelos empresários envolvidos com as questões sociais."
Gisela Gorovitz (São Paulo, SP)

Concurso para auditor
"Deparamo-nos com um fato inusitado no último concurso público da Receita Federal para preenchimento de 800 vagas no cargo de auditor-fiscal do Tesouro Nacional: 18 candidatos obtiveram nota igual em oito matérias diferentes e, mais, ao que consta todos prestaram provas na cidade de Santos (SP). Está certo que eram cerca de 100 mil candidatos no Brasil. Entretanto, acertar e errar, identicamente, 180 questões de opção múltipla (cinco alternativas) e ainda prestar provas na mesma cidade. Haja coincidência!"
Márcio Augusto Nascimento (Londrina, PR)

Greve na USP
Na última sexta-feira, a pedido do movimento grevista na USP, o sr. Vicente Paulo da Silva, presidente nacional da CUT, procurou a reitoria. Em nome do reitor, respondi por telefone ao Vicentinho, mas a versão dos fatos divulgada na imprensa é equivocada. Tenho certeza de que procurei transmitir-lhe meu ceticismo quanto a qualquer retomada de negociações, já encerradas com a adoção definitiva de uma política salarial responsável pelas universidades estaduais, para o presente período. Não tenho conhecimento da reunião de reitores aludida por ele. Anteriormente, Vicentinho se comprometera, durante um debate público na Folha, a interceder junto às lideranças grevistas da USP, mas infelizmente essa iniciativa não se prosperou. O presidente nacional da CUT merece todo o respeito do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp). Só lamentamos que um equívoco possa criar expectativas falsas num movimento grevista que já perdeu seus objetivos diante da decisão final do Cruesp."
José Augusto Guilhon Albuquerque, chefe de gabinete da USP (São Paulo, SP).

Contra a discriminação
"Agradecemos a reportagem de 08/05, intitulada `Intercâmbio devolve americana' (Rotary alega que jovem teve mau compotamento; ela diz que foi expulsa do país por ser lésbica). Enviamos a reportagem da Folha para a Comissão Internacional de Direitos Humanos de Lésbicas e Gays, em San Francisco, Califórnia, bem como a levamos para Lima, no Peru, onde participamos, em maio, do evento `Violência por Orientação Sexual, Participação Política e Sócio-Econômica'. O difícil foi explicar para as representantes dos grupos lésbicos da região que no Brasil ocorra esse tipo de discriminação."
Luiza Granado, coordenadora da Rede de Informação Lésbica Um Outro Olhar (São Paulo, SP)

Poluição sonora
"Quero fazer um apelo às pessoas desta cidade: para não comprar mais mercadorias de gente que não respeite o direito à paz urbana. Isso quer dizer gás, ovos, frutas, pamonha, produtos de limpeza. Esses produtos estão ao nosso alcance em feiras, sacolões, lugares de fácil acesso e onde podem ser comprados com mais garantia de qualidade, sem caminhões infernais."
Laerte Coutinho (São Paulo, SP)

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