São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Real vai pegar boi em plena entressafra

ULISSES DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM P.PRUDENTE

A acusação de "vilões do plano econômico", que pesou sobre os pecuaristas em 1986 durante o plano Cruzado (veja texto ao lado), ronda novamente os pastos da região de Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo).
A 16 dias da entrada em vigor do real, os pecuaristas estão preocupados com a repercussão do aumento da carne no varejo, puxado pela alta do preço da arroba do boi gordo (56,25% em maio).
"O real vai nascer na boca da entressafra, em julho, quando o frio provoca escassez na oferta de bois e a tendência é sempre de alta no preço da arroba", diz Sigeyuki Ishii, 55, presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente.
"Não queremos ser novamente os vilões do plano econômico", afirma Ishii, ao explicar que o preço da arroba ainda está defasado em relação à inflação.
Segundo ele, a arroba do boi gordo teve aumento acumulado de 389,26% de janeiro a 31 de maio deste ano, enquanto a TR subiu 499,69% no mesmo período.
"Esta defasagem era maior em abril e tinha de ser recuperada em maio e junho para que o consumidor não viesse a sentir o reflexo durante a troca do dinheiro", diz.
Mas a reação no preço da arroba só começou a partir de 20 de maio e já pesa no bolso do consumidor.
O preço da carne disparou no varejo. Entre 8 de maio e 8 de junho últimos, foi registrado aumento do produto acima de 100% na maioria dos supermercados.
Nos frigoríficos, o preço médio do quilo da carne que é vendida aos supermercados subiu 66,67% em maio. O valor passou de CR$ 2.100 para CR$ 3.500.
Nos oito primeiros dias deste mês, os frigoríficos reajustaram o preço de CR$ 3.500 para CR$ 4.500. O aumento, de 28,57%, é equivalente a uma alta diária de 3,57%.
Ishii se diz preocupado com as notícias de que a carne está puxando a inflação porque "o binóculo do governo", segundo ele, sempre se volta para os pecuaristas.
Apesar de o preço da carne estar espantando o consumidor, ele espera que o boi gordo, mesmo na entressafra, não seja o escolhido como o responsável por qualquer problema na implantação do real.
A arroba, segundo o pecuarista, valia 22 URVs no dia 8 de junho. "Acho que o valor pode chegar a 25 URVs nos primeiros dias do real e há bois suficientes para atender qualquer demanda", diz Ishii.
Segundo o pecuarista, o boi para o abate a 25 URVs cobre apenas os custos com a engorda, incluindo investimentos em pastagens.
O pecuarista Marcelo Negrão, 53, de Presidente Prudente, que teve bois desapropriados pelo governo em 1986, diz que não há clima para se repetir o que aconteceu durante o Plano Cruzado.
"O preço do boi está dentro do padrão de acompanhamento da inflação e não há escassez de animais, apesar de a entressafra estar chegando", diz Negrão.
Para Cesário Ramalho da Silva, pecuarista e diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), a alta da arroba nos últimos dias reflete também a insegurança do mercado com a entrada do Real.
Ele diz que não há problemas de abastecimento. "Pelo contrário, este ano o regime de chuvas tem favorecido as pastagens e existe até a possibilidade do período de safra se prolongar."

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