São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Alunos do Colégio Militar dizem ter sido proibidos de assistir a peça

RONI LIMA

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro disseram ter sido pressionados a não assistir à peça "A Quarta Companhia", sob pena de suspensão por quatro dias.
A peça estreou na sexta-feira, no Teatro do Leblon, na zona sul do Rio, e conta a história real de um aluno que, há quatro anos, foi punido pelo colégio e se matou com um tiro na cabeça.
O diretor do colégio, coronel José Carlos Codevila Pinheiro, negou que tenha havido ameaças de punição. Ele disse que inclusive almoçou ontem com quatro alunos que foram à peça.
O coronel se recusou a comentar o teor da peça, que critica o sistema educacional do colégio. "A peça é uma obra literária, é a versão do autor. Nos reservamos a não fazer maiores comentários."
Os alunos que conversaram com a Folha, no sábado, estavam assustados. Eles não quiseram dar declarações. Mayra Capovilla, 16, amiga de um deles, confirmou a ameaça. "Eles disseram que um tenente ameaçou quem fosse à peça com quatro dias de suspensão."
Produzida e dirigida por Desmar Cardoso, 43, a peça mostra os problemas do aluno Netinho, pressionado psicologicamente pela mãe exigente e por um sistema educacional altamente repressor. O autor disse que não quis "crucificar o Exército e nem o colégio".
O suicídio do estudante do Colégio Militar Celestino José Rodrigues Neto, o Netinho, em maio de 90, teve grande repercussão.
Acusado de tentar colar numa prova de geografia, ele foi expulso de sala. Duas semanas depois, sua mãe foi chamada pelo colégio.
Na formatura, um comunicado público informava que Netinho fora punido com seis dias de suspensão. Em casa, na Vila Militar (zona oeste), ficou de castigo, sendo proibido inclusive de andar na bicicleta que ganhara dois dias antes, no seu aniversário.
Os pais saíram de casa com a filha e a empregada. Quando voltaram, Netinho estava morto na sala. Havia dado um tiro na cabeça com o revólver do pai. (RL)

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