São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Estou em uma quase fantasia futurível

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

Meus amigos, meus inimigos, a Copa ocorre em um momento de aquecimento da economia americana, depois de um longo período de vacas magras. Esta é uma boa notícia para o mundo.
Quando se diz, aí no Brasil, que a região de Ribeirão Preto é a Califórnia brasileira, não se tem idéia do que é a Califórnia californiana, mora. Riqueza é qualidade de vida média da população.
E a média, aqui, é altíssima. E glamourosa. Há sinais claros de que a recessão perde o fôlego na Califórnia. Dados disponíveis até maio último mostram que este ano foram criados 30 mil empregos.
Em 1993, 120 mil pessoas perderam seu trabalho. Não há expectativa de uma nova explosão econômica. Mas há uma tendência de recuperação. E a Califórnia é o vapor da economia dos EUA.
Se fosse um país, este ensolarado Estado seria a sétima economia do mundo. Ele representa 13% do Produto Interno até tu, Bruto? dos EUA. Barraria o Canadá e o Brasil no concerto dos grandes.
Califórnia não é só prancha de surfe, terremoto, Roliud, gangues de Los Angeles e gays de São Chico. É também altíssima tecnologia, aqui no chamado Vale do Silício, ao sul de San Francisco.
Esqueça esta história de que o Brasil está em San Francisco. É um mito da publicidade que está em San Francisco. A seleção brasileira só passa pelo aeroporto de San Francisco. Lá não haverá jogos.
O Brasil mora aqui em Los Gatos. Fica, em direção sul, cerca de 1h10 de carro de San Francisco. Pode ser chamada de Los Gatos pingados, de tão pequena. Mas é rica. E agradável (por dois dias).
Los Gatos é perto do litoral, mas não junto ao mar. Lá na praia fica Santa Cruz, onde moram os russos, nossos primeiros adversários. O Brasil faz seus treinos em outra cidade, Santa Clara.
Santa Clara está na mesma estrada, a 17, cerca de 20 minutos, a nordeste. Na próxima segunda-feira o Brasil fará a sua estréia no estádio de Stanford. Ele pertence à famosa Universidade de Stanford.
Ela fica em uma cidade chamada Palo Alto. De Los Gatos a Palo Alto leva uns 35 minutos de carro, em direção ao norte. Palo Alto está ensanduichada entre o Pacífico e a Baía de San Francisco.
Há cidades gigantescas, como a velha San José, onde fica hospedada a maior parte da imprensa brasileira. Todas, mesmo as com poucos habitantes, são cidades longas, horizontais, sem mega-edifícios.
É isto que nos impressiona: nada de crescimento vertical. Edifícios pequenos nos centros e o resto é uma sucessão de casas e jardins. Ordem, beleza, limpeza, ambientes acolhedores, simpatia geral.
Fresno, que fica a 300 km para o leste, onde o Brasil jogou domingo, é uma maravilha. Dizem que tem 1 milhão de habitantes. Flores e árvores são inacreditáveis (há uma rua linda, dedicada ao cedro).
Então, se você veio para São Chico com as flores no cabelo do Tony Bennett, atrás das noites do Eric Burdon & The Animals ou dos dias de San Francisco do Chris Isaak, é melhor mudar o disco.
Há um outro sonho da Califórnia, que também não é aquele do The Mamas & Papas dos anos 60. Este aqui é de uma quase fantasia futurível: hightech e civilização. Com raibans, louras e cabriolets.
Na Universidade de Stanford está a vanguarda do chamado movimento "multiculturalista". A Califórnia é sempre um passo à frente. A mais forte candidata a governadora do Estado é uma mulher.
Kathleen Brown é a mulher americana do momento. Se virar governadora, os fortes ventos daqui sussurram que é a única fêmea presidenciável de toda história dos EUA. Tem pai e irmão ex-governadores.
O Estado da Califórnia é bonito. Penso em você e eu. E, cheio desta esperança que Deus me deu, embarco hoje para Chicago. O show vai começar.

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