São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Motorista cidadão

ROBERTO SALVADOR SCARINGELLA

A morte do piloto Ayrton Senna, poucos dias depois do desaparecimento do jogador Dener, comoveu a todos. As duas perdas trouxeram a público, mais uma vez, o tema da importância da segurança e da fragilidade da vida.
No caso de Senna, questiona-se a adequação das normas de segurança em um circuito; já o acidente com Dener gera o risco do questionamento da validade do uso do cinto de segurança no dia-a-dia do cidadão.
É muito importante que se discuta a questão, até porque a sociedade precisa se posicionar para ampliar o espectro da segurança no trânsito.
Sabe-se que a legislação vigente obriga o uso de cinto apenas nas estradas. Seria oportuno que a sociedade se mobilizasse para incentivar o uso do cinto também nas cidades.
Na verdade, a segurança no trânsito ainda é um valor bem pouco representativo no elenco de preocupações do motorista. A relação deste com o veículo e com o trânsito traduz a falta de noção de risco. Dirigir, então, passa a ser uma atividade banalizada e quase que intuitiva.
Concretamente, essa falta generalizada da noção de risco pode ser constatada no consumo indevido de bebida alcoólica, no excesso de velocidade, na falta de uso do cinto de segurança e na negligência na manutenção de itens essenciais da mecânica –sem contar a pouca importância dada à própria precariedade das condições de manutenção da via pública.
O estado de calamidade pública não atinge apenas as estradas brasileiras, mas também as cidades, situação que deve requerer sempre mais investimentos em operação e manutenção do sistema viário. Dois exemplos podem ser apontados como referência, para ação imediata:
1) Em São Paulo, perto de 2.400 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito em 93. Desses, 60% eram pedestres.
2) Também há uma quantidade grande de ruas com grande movimento sem calçadas, na média e alta periferia. As prefeituras devem exigir (é de lei) que os proprietários construam e mantenham. Esta não seria a bandeira de uma administração, mas de toda a comunidade.
A repercussão da gravidade da insegurança no trânsito se amplia quando se registra um acidente com alguém famoso. Mas o foco sobre esse problema não pode ser episódico.
Daí, a necessidade de uma mobilização que inclua o trabalho coletivo, o instinto de sobrevivência e o de cidadania.
Sem uma ação coordenada e permanente, a situação atual não irá melhorar. A segurança no trânsito não ocorre por geração espontânea. É preciso ação.

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