São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Comércio em Taboão usa polícia paralela

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os comerciantes do Pirajuçara, bairro onde 12 pessoas foram assassinadas na madrugada de domingo, possuem um serviço de segurança clandestino.
A Polícia Civil de Taboão da Serra investiga a hipótese de a chacina ter sido praticada por "matadores" ligados ao serviço de vigilância dos comerciantes.
Os vigilantes, segundo a polícia, são homens condenados pela Justiça ou que foram vítimas de bandidos da região.
Segundo um comerciante que não quis se identificar, os seguranças do Pirajuçara cobram CR$ 10 mil por semana para evitar assaltos. O dinheiro é arrecadado por um homem conhecido por "Barba Ruiva".
Segundo a polícia, "Barba" é o líder dos seguranças e também passa informações para os investigadores. Por isso, é temido por pequenos assaltantes da região.
O serviço de segurança de "Barba Ruiva" funciona 24 horas por dia. Seus agentes andam armados e sem uniforme. Nas rondas, usam motocicletas e carros.
"Quando acontece um crime aqui, a Polícia Militar só aparece meia hora depois", disse o dono de uma loja de móveis que pediu para não ser identificado.
O comerciante, assim como a polícia, desconhece o número de homens que trabalham no serviço de segurança. "Só sei que depois que contratei o Barba Azul nunca mais fui assaltado."
Os seguranças atuam em um trecho de três quilômetros da principal avenida do Pirajuçara, a Kizaemon Takeuti. A avenida concentra lojas de móveis e roupas e depósitos de materiais para construção.
Na região, ocorre um homicídio a cada dois dias.
Para a polícia, membros do serviço de segurança dos comerciantes podem estar ligados a "matadores".
"Matadores são pessoas que odeiam e matam bandidos. Eles não aceitam a supremacia dos ladrões que agem no próprio bairro que vivem", disse o delegado titular de Taboão da Serra, Guaracy Moreira Filho.
Segundo o delegado, a cadeia da cidade já chegou a ter sete "matadores" presos.
O "matador" mais famoso da região é José Ferreira Campos, conhecido por "Zé Prego". Ele é acusado de ter assassinado cerca de 30 pessoas.
Em janeiro, Campos fugiu do Centro de Observação Criminológica, no Carandiru (zona norte). "Agora ele está aterrorizando a região", afirmou o delegado Moreira Filho.

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