São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Grama danificada prejudica o Brasil

Buracos e irregularidades são fatais

TELÊ SANTANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estou muito preocupado com esta questão da grama. Soube que a festa de formatura de domingo, em Stanford, inadiável por ser uma tradição da universidade, acabou por destruir uma boa parte do campo onde o Brasil vai estrear contra a Rússia na segunda-feira.
Vá lá que este não seja o país do futebol. Está certo que os americanos não liguem muito para a grama, já que seus esportes de campo mais populares, o beisebol e o outro futebol, não exigem isso: a bola não precisa rolar sobre uma superfície uniforme, atapetada, como no nosso futebol.
O que não pode é um país que organiza o Mundial se descuidar de detalhes importantes como este. Não é de hoje que as televisões mostram gente replantando grama às pressas nos estádios onde se jogará a Copa. Replantios requerem tempo e paciência. Grama não se recupera em uma semana.
Lembro-me da Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Cometeram o erro de replantar a grama poucos meses antes da abertura. O resultado é que, pelo menos em Mar del Plata, onde o Brasil jogou, o gramado estava muito fofo. Com poucos minutos de jogo, abriam-se verdadeiras crateras no campo. Soube que os americanos chegam a pintar certos gramados de verde para dar a impressão de que são bons. De longe, muito bonitos. Para quem joga, péssimos.
Tenho alguma experiência no assunto. Sou muito exigente quanto a se cuidar com carinho do campo. No São Paulo não deixo ninguém, além dos jogadores, pisar no gramado.
Minha preocupação quanto a Stanford é que a seleção brasileira será a mais prejudicada. O campo ruim dificulta o desempenho de um time mais técnico como o brasileiro.
Estou convencido de que a tônica do nosso grupo será a seguinte: o Brasil jogando para vencer todas as partidas, os outros tentando empatar com o Brasil e deixando para decidir a vaga entre eles.
Como uma vitória, a partir desta Copa, vale três pontos, nossos adversários sabem que com sete pontos (empate com o Brasil, vitórias sobre os outros do grupo) classificam-se.
Eles, com certeza, jogarão na defesa. Vão se fechar, diminuir o máximo possível os espaços em seu próprio campo. É a estratégia habitual dos que jogam contra o Brasil em Copas. A nossa estratégia é diferente: jogamos para ganhar, porque é o que todos esperam de nós. É a marca do nosso futebol.
O toque de bola é fundamental para se vencer uma defesa fechada. O Brasil terá de fazer a bola rolar de pé em pé, até encontrar o caminho do gol. Como fazer a bola rolar num campo que foi tão castigado?
Se me perguntarem o que eu recomendaria à seleção para não se dar mal, diria o que digo sempre: jogar futebol. Em campo bom ou ruim, contra adversário fechado ou não, só acredito no time que joga futebol.

Têle Santana, técnico do São Paulo, escreve nesta coluna todos os dias, à exceção de quintas e domingos

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