São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Pela direita

Embora não tenha emitido sinais globais absolutamente inequívocos, a eleição para o Parlamento Europeu, encerrada no domingo, parece indicar que o ânimo do eleitorado continua inclinado mais à direita.
É evidente que esses rótulos (direita, esquerda, centro) estão muito desgastados e que nem sempre fica claro quem, no panorama político-ideológico da Europa, é de fato de esquerda ou de direita.
Mesmo com essa ressalva indispensável, as derrotas sofridas pelos partidos centro-esquerdistas mais importantes são inegáveis. Perderam tanto o Partido Socialista francês, do presidente François Mitterrand, como o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do premiê Felipe González, como a social-democracia alemã.
O que ofuscou um pouco o predomínio do voto à direita foi o resultado no Reino Unido, em que os trabalhistas, teoricamente de centro-esquerda, derrotaram os conservadores por larga margem (65 cadeiras contra 17). Só por isso o chamado Grupo Socialista Europeu, que reúne as agremiações centro-esquerdistas, mantém ainda uma precária maioria relativa no Parlamento Europeu.
Mas o resultado inglês é muito mais produto do desgaste do governo conservador, no poder há 15 anos, do que propriamente um voto a favor do trabalhismo. É verdade que idêntico raciocínio se poderia também aplicar à Espanha, país em que o governo do PSOE, acuado por suspeitas de corrupção, sofreu uma pesada derrota.
De qualquer forma, bem feitas as contas, o vento político-eleitoral que sopra na Europa continua sendo predominantemente conservador, o que soa como continuidade do desgaste da esquerda em geral, desde que ruiu o Muro de Berlim.
O outro aspecto relevante da eleição é o desapontamento dos eleitores com suas elites políticas, refletido no baixo comparecimento às urnas. Pouco mais da metade dos eleitores (56,5%) animou-se a votar, o mais baixo índice desde 79.
Com isso, fica enfraquecido o Parlamento Europeu, justamente no momento em que se tenta dar a ele maiores poderes na estrutura da União Européia (UE).
Os inúmeros líderes europeus que se queixavam de um suposto "déficit democrático" na UE têm agora razões adicionais de inquietação, o que, por sua vez, revela as dificuldades que a Europa continua encontrando para avançar no processo de unificação.

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