São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Será que Nova York ficou totalmente gay?

DAVID DREW ZINGG

A grande pergunta do momento é: será que Nova York ficou totalmente gay?
Meu tio Bill foi secretário particular de Thomas B. Watson, o gênio que transformou a IBM numa grande empresa –na época em que a IBM era uma grande empresa. Isso foi na década de 30.
No Natal, o tio Bill comparecia à reunião familiar com um cavalheiro mais velho que se mantinha silencioso num canto, sem jamais abrir a boca.
Apenas anos mais tarde é que fui entender que meu tio Bill era um gay enrustido.
Tio Bill jamais assumiu sua condição de gay, mas hoje a impressão que tenho é que a Gringolândia inteira está se tornando gay, e publicamente.
Se não acreditam no tio Dave –acreditem na mídia. O grande assunto que se comenta hoje na Grande Maçã é a Copa do Mundo e os Jogos Gays.
As Olimpíadas Gays desta semana são mais notícia aqui do que a própria Copa do Mundo. Todos os jornais, todos os rádios e todas as televisões estão difundindo as notícias gays.
A "New York Magazine", publicação que fala pelo público em geral –as pessoas que se vêem como "New Yorkers" básicas–, tem uma manchete esta semana que resume um pouco o clima geral por aqui. A revista indaga: "Será que Todo Mundo é Gay?" E diz: "We're Queer, We're Here –GET USED TO IT" (Somos bichas e estamos aqui –ACOSTUMEM-SE À IDÉIA).
O mundo gay aqui na Gringolândia está atingindo proporções críticas, de massa. Tantos gays se assumiram como tais desde a época do meu tio Bill que eles se transformaram num fator político de crescente importância. A sombra do desastre da Aids se lança sobre a sociedade daqui como a ameaça da bomba atômica na Guerra Fria, nos anos 50.
O movimento lésbico assumiu um poder tão grande que está deixando para trás a velha e simples filosofia feminista.
Conta-se em Nova York uma piada gay amarga, de que os heterossexuais daqui têm duas opções: ou aderem à bagunça gay ou se dirigem ao equivalente do Guarujá e participam de uma Passeata do Orgulho Heterossexual, para protestar contra seu contingente cada vez mais reduzido.
Posso imaginar meu tio gay, Bill, sorrindo e perguntando a seu sobrinho, tio Dave: "Tem certeza mesmo que você também não é?"

Tradução de Clara Allain

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