São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Matthaeus promete futebol-arte na estréia

UBIRATAN BRASIL
DO ENVIADO ESPECIAL

A Alemanha abre a Copa dos EUA hoje, às 16h, enfrentando a equipe da Bolívia. O jogo será realizado no estádio Soldier Field, em Chicago, Estado de Illinois.
O peso dos 33 anos não incomoda o alemão Lothar Matthaus. Apesar da idade, o agora líbero da seleção alemã está longe de ser considerado veterano.
Líder e maior ídolo da equipe campeã da Copa de 90, Matthaus tem a missão de dividir com os colegas sua experiência de ter disputado os últimos três Mundiais.
"Sinto que estou tremendamente bem. O conhecimento que acumulei nesses anos vai ser útil agora", disse Matthaus à Folha.
Ciente desse poder, o técnico Berti Vogts deu-lhe a função nobre de líbero, ou seja, jogar tanto como o último homem da defesa como ser o principal articulador das jogadas de ataque.
Inicialmente despreparado para a função, Matthaus conseguiu, em pouco tempo, a adaptação perfeita.
"Matthaus é hoje imprescindível para o nosso ataque", observou o centroavante Klinsmann.
Eleito o melhor jogador da Copa de 90, dono de um salário anual de US$ 1,5 milhão no Bayern de Munique e escolhido entre as 50 pessoas mais bonitas do mundo em 93 pela revista americana "Time", Matthaus tem a certeza de que vai se despedir da seleção com mais um título.

Folha - Por que a certeza de que a Alemanha será campeã?
Lothar Matthaus - Porque essa Copa do Mundo não vai ser marcada por figuras isoladas, como aconteceu em 86, com o Maradona, ou por jogadas individuais que sejam decisivas.
Vão ser mais importantes os esquemas táticos e a determinação dos jogadores em grupo. E a Alemanha vem trabalhando nesse caminho desde 90. A força da mentalidade dos jogadores é o grande trunfo do time.
Folha - Com isso o futebol alemão não fica muito esquematizado e perde seu encanto?
Matthaus - Seria assim se não fizéssemos o trabalho correto. O futebol praticado hoje na Alemanha é puro espetáculo. Nenhum time pensa em se defender ou em empatar. Tanto que o campeonato foi decidido na última rodada.
Folha - A média de idade do time (28,5 anos), uma das mais altas no Mundial, é determinante para esse sucesso da seleção?
Matthaus - Penso que sim. É importante que as pessoas saibam que não somos mais velhos –estamos mais experientes. Esse conceito é importante para derrubar idéias estúpidas, como a de que um garoto de 20 anos vai ser obrigatoriamente melhor que um jogador veterano de 33.
Folha - A Bolívia pode esperar então por uma derrota?
Matthaus - Bom, o futebol é imprevisível, mas tenho quase certeza de que vamos ganhar. A Bolívia tem um esquema bom e, quando suas jogadas rápidas acontecem (como no início do amistoso contra a Suíça), torna-se um time muito perigoso. Mas estamos muito bem preparados e não tememos que isso ocorra.
Folha - Você acredita que o estilo determinado do futebol da Alemanha vai se distanciando daquele praticado pelos sul-americanos, mais envolvidos pelo improviso do talento?
Matthaus - Não, porque como já disse, praticamos o futebol-espetáculo. Hoje o jogador alemão, do ponto de vista técnico, não fica atrás de qualquer brasileiro, colombiano e argentino. Nossa experiência é que permite ter mais entrosamento que os outros.
Folha - Com isso a angústia da estréia é menor?
Matthaus - Isso não. Qualquer estréia em Copa do Mundo é nervosa.
Folha - Você já se acostumou a jogar como líbero?
Matthaus - Agora sim. No começo, sentia dificuldade para distinguir o momento de atacar do de defender.
Folha - Você deixa mesmo a seleção depois da Copa?
Matthaus - Com certeza. Afinal, em 98, já serei um pequeno velhinho e não terei tanto fôlego como hoje.

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