São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Roberto Carlos ganha tributo em disco

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Antes de cantar gordinhas, caminhoneiros e amantes à moda antiga, Roberto Carlos costumava levar adolescentes à histeria. Faz tempo. Roberto está fazendo 35 anos de carreira.
É mais do que tem Roberto Frejat, 32. Ele ainda era criança quando Roberto Carlos tinha ritmo de aventura. Para resgatar a imagem de ídolo juvenil do "rei", a Sony Music convidou Frejat para produzir um disco em tributo ao cantor.
A idéia ilumina os olhos do guitarrista do Barão Vermelho. "Vem a calhar nesse momento em que a molecada está descobrindo o pessoal da música brasileira, como Tim e Benjor", ele diz, em entrevista exclusiva à Folha, após a primeira gravação do projeto.
"Não é que Roberto Carlos seja desconhecido", Frejat completa, "mas é interessante criar um vínculo maior dele com o universo adolescente."
As gravações começaram na manhã de segunda. Paulo Miklos, vocalista dos Titãs, passou a semana cantando "Sua Estupidez".
"Ficou uma balada soul", conta Frejat, sobre a primeira música do disco. "Muito bonita." Miklos é o único Titã envolvido com o projeto. Os outros não tinham disponibilidade de tempo.
O time escalado pelo guitarrista é bom de vendas: Kid Abelha, Lulu Santos, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Cássia Eller, Marina, Carlinhos Brown, Chico Science, Skank, João Penca e os Miquinhos Amestrados, Vexame e, claro, Barão Vermelho. Novos nomes podem aderir ao projeto.
Frejat diz que não sabe porque foi escolhido pela Sony para produzir o tributo –Barão Vermelho tem contrato com a Warner Music. Mas revela que o convite veio acompanhado de uma condição: os artistas teriam que ser "da geração do Barão em diante".
"Não teria sentido fazer mais uma coletânea convidando Gil ou Caetano", ele avalia, "porque essas pessoas não atualizariam tanto a sonoridade".
Lulu Santos, Kid Abelha e Marina já tinham gravado versões de músicas cantadas ou compostas por Roberto Carlos.
"O Lulu, por ser um pouco mais velho que nós, talvez tenha pego a Jovem Guarda em cheio", diz Frejat.
Ritmo de Aventura
A lembrança que o guitarrista tem de Roberto pertence à infância. "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" foi o segundo disco que ele ganhou na vida –é também seu álbum favorito do "rei".
Para Frejat, o melhor da carreira do cantor foi gravado entre a Jovem Guarda e a metade dos anos 70. Até "Detalhes", basicamente.
"A partir daí", Frejat diz, "ele adota uma relação diferenciada com a produção de discos, um lado mais Sinatra, distanciando-se um pouco do público jovem."
O objetivo de Frejat é reunir versões bem diferentes das gravações originais.
Deve conseguir isso fácil na gravação timbalada de "Detalhes", por Carlinhos Brown, no funk "Todos Estão Surdos", por Chico Science, e em "Por Isso Corro Demais", na velocidade reggae do Skank.
Não vai faltar nem besteirol. O grupo Vexame, especializado na teatralização de músicas bregas, apronta com "Cavalgada".
Barão Vermelho, que teve a experiência de partipar do tributo à Raul Seixas, "O Início, o Fim e o Meio", lançado em 92 pela Sony, grava "Quando".
"A gente pretende desconstruir a música", diz Frejat. "Seria fácil e natural para o Barão usar uma linguagem de rhythm'n'blues, mas a gente pode tentar uma maluquice, para dar um toque mais contemporâneo."
Marina, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Cássia Eller ainda não definiram repertório.
As gravações acontecem até julho em três Estados –Rio, São Paulo e Bahia. O disco chega às lojas em setembro.

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