São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Combate à fome e candidaturas

D. MAURO MORELLI

Em tempos de eleição chove conversa fiada! Sem fecundar a terra da democracia, agita-se a superfície da mediocridade reinante na República.
Com insistência, pretende-se vincular a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida a uma candidatura ou direcioná-la para fortalecer ou viabilizar uma outra proposta.
Como ilustração, transcrevo recentes afirmações: "O governo lança dia 16 de junho uma cruzada contra a fome e a miséria no Nordeste, região onde a candidatura de Fernando Henrique Cardoso capenga e Lula lidera com mais de 40% dos votos" e "em sua maioria, os Comitês da Ação da Cidadania são coordenados por simpatizantes do Lula" (Informe JB - 09/06/94).
Nem o governo tem qualquer plano para assegurar a continuidade dos programas das Frentes Produtivas de Trabalho e de distribuição de alimentos para o Nordeste, nem a Ação da Cidadania se presta para outra finalidade que não seja promover a candidatura dos famintos.
Por injunções políticas, orçamentárias e entraves burocráticos, o governo ficou aquém do seu dever de combater à fome e à miséria. O PT foi bastante pusilânime e, até, omisso em relação à participação na Ação da Cidadania e ao próprio presidente Itamar, a quem urgiu assumir a tarefa de declarar guerra à fome e de iniciar a implantação da Política de Segurança Alimentar.
A Ação da Cidadania é uma composição pluralista que se une para resgatar a dignidade humana dos famintos.
Ações emergenciais e compensatórias não estão sendo realizadas com nenhum outro objetivo que não seja o combate à fome. A descentralização da merenda escolar seria um atestado de incompetência política se tivesse por objetivo promover qualquer candidatura.
O Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), por recomendação do presidente e em colaboração com o Ministério da Agricultura está ultimando um programa de distribuição de quatrocentas mil toneladas de arroz, milho e trigo, em parceria com outros níveis do Poder Público e com a sociedade constituída em Comitês Municipais.
Como cidadão e presidente do Consea coloco esperança nos debates e propostas das 26 Conferências Estaduais de Segurança Alimentar, ora em andamento, e da Conferência Nacional que terá lugar, em Brasília, de 27 a 30 de julho.
A Ação da Cidadania apresentará aos partidos uma proposta e um desafio. À luz das diretrizes, bases e etapas que serão formuladas pela Conferência Nacional de Segurança Alimentar esperamos plataformas para implantar uma Política de Segurança Alimentar.

D. MARIO MORELLI, 58, bispo da Diocese de Duque de Caxias (RJ), é presidente do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar).

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