São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Justiça acusa ex-astro de homicídios

CARLOS EDUARDO LINS E SILVA
DE WASHINGTON

O ex-jogador de futebol americano e ator O. J. Simpson, uma das personalidades públicas mais admiradas nos EUA, foi acusado ontem pela justiça da Califórnia de ter matado sua ex-mulher e um amigo dela.
O duplo homicídio aconteceu no domingo em Los Angeles e é o principal assunto dos meios de comunicação norte-americanos.
Se o júri o considerar culpado, Simpson pode ser condenado à morte ou à prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. Ele vai aguardar o julgamento preso. Não há fiança para acusados de múltiplos homicídios.
Até as 14h locais de ontem (18h em Brasília), Simpson ainda não havia sido preso. Um porta-voz da polícia de Los Angeles reconheceu não saber onde ele estava mas que esperava sua rendição.
A polícia havia feito um acordo com o advogado de Simpson pelo qual ele se entregaria às 11h de ontem (15h em Brasília). O porta-voz afirmou que se a rendição não ocorresse, Simpson seria caçado.
Simpson foi ao enterro da ex-mulher, Nicole Brown, na quinta-feira. Com terno e gravata negros, de mãos dadas com os filhos do casal, ele foi visto chorando durante a cerimônia. A família de Nicole o recebeu de maneira cordial. Ela tinha 35 anos e era decoradora de interiores.
No enterro de Ronald Goldman, o amigo de Nicole também morto no domingo, o ambiente era de revolta contra Simpson. Ele e Nicole se tornaram amigos depois do divórcio dos Simpson, em 1992. A família Goldman nega que os dois estivessem namorando. Ele tinha 25 anos e era garçom.
Simpson, 46, foi o mais famoso jogador de futebol americano da década de 60. Em 1974, estreou como ator no filme "Os Homens da Klan". Atuou em "Inferno na Torre", "Raízes" e na série "Corra Que a Polícia Vem Aí" (cujo mais recente episódio está em exibição em São Paulo).
Ele também é comentarista de futebol americano na televisão e o principal porta-voz publicitário da Hertz, empresa de aluguel de automóvel, que ontem cancelou a veiculação dos anúncios em que Simpson aparecia.
Simpson e Nicole se conheceram em 1967. No ano seguinte passaram a viver juntos. Casaram-se em 1975 e se divorciaram em 1992. Têm dois filhos: Sidney Brooke, 9, e Justin, 6.
Desde segunda-feira, foram revelados diversos episódios de agressões durante o casamento dos dois. Pelo menos nove vezes ela chamou a polícia à mansão do casal para defendê-la do marido.
Na noite de Ano Novo de 1989, ela o acusou formalmente de agressão física. Simpson admitiu a culpa e foi condenado a dois anos de liberdade condicional.
Na noite de domingo, os Simpson foram vistos com os filhos num recital de dança. Segundo a polícia, Nicole e Goldman foram mortos por volta de 23h. Simpson embarcou para Chicago às 23h45.
O advogado de Simpson diz que na hora do crime ele estava em casa, esperando uma limusine para levá-lo ao aeroporto. A casa dele fica a cerca de 4 km da residência de Nicole, onde ela e Goldman foram mortos.
O motorista da limusine diz que Simpson não estava em casa quando ele chegou para apanhá-lo às 22h45. O motorista falou à TV, sem se identificar, que Simpson suava e parecia agitado quando entrou no carro após às 23h.
Nicole e Goldman foram esfaqueados. Os indícios são de que os dois brigaram com o assassino. Os corpos foram deixados na entrada da casa dela.
Uma mulher também não identificada disse à polícia que fazia jogging nas imediações da casa de Nicole na hora do crime e viu um carro parecido com o de Simpson.
Relatos ainda não confirmados pela polícia dizem que o tipo de sangue de Simpson coincide com amostras achadas no local do crime. Mas exames do DNA dele, mais acurados, não terminaram.
O advogado pessoal de Simpson, Howard Weitzman, que também representa o cantor Michael Jackson, deixou o caso, alegando excesso de trabalho, anteontem. O novo advogado de Simpson é Robert Shapiro, que já defendeu o filho de Marlon Brando, Christian.
A acusação contra Simpson provocou imediata e comovida reação do público, manifestada em milhares de telefonemas a programas de rádio e televisão em todo o país.
Um dos assuntos mais levantados nesses telefonemas é o fato de Simpson ser negro e Nicole e Goldman terem sido brancos. Alguns líderes de entidades negras disseram que tentarão evitar que o caso vire uma polêmica racial.

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