São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Górecki vem com orquestra ao Brasil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor polonês Henryk Mikolai Górecki, 60, chega ao Brasil dia 15 de julho para participar do 25.º Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Um dos mestres da música contemporânea e responsável pela vitória do CD erudito nas paradas de música pop em 1993, Górecki (pronuncia-se "gorétski") vem na condição de convidado.
Ele assiste aos dois concertos da Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Polonesa. Górecki tem estima pelo grupo. Para ele, é a intérprete ideal de sua obra sinfônica.
O primeiro espetáculo acontece dia 16 no auditório Claudio Santoro em Campos do Jordão. O segundo, dia 17 no Memorial da América Latina. O regente e diretor artístico do grupo é o polonês Antoni Wit, discípulo de Górecki.
A confirmação oficial da vinda do compositor aconteceu anteontem. A agente de Górecki, Susan Bamert, da editora londrina Boosey & Hawkes, acertou os últimos detalhes da viagem com a Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, que organiza o festival. Górecki vem com a orquestra de 90 integrantes.
A Sinfônica da Rádio Nacional Polonesa faz a "première" no Brasil justamente da obra que deu glória pop ao compositor: a "Sinfonia n.º 3 'Cantos Tristes'", para soprano e orquestra. Como solista, a soprano polonesa Ewa Izykowska.
A orquestra polonesa foi a primeira a ter gravado a "Terceira Sinfonia", em 1988, para o selo russo Olympia. Mas o sucesso da obra se deu com o CD da London Sinfonietta e soprano norte-americano Dawn Upshaw, lançado no Brasil no último ano pela gravadora Warner Music. O disco chegou ao primeiro lugar da parada pop inglesa em março de 1993.
Reelabora na "Sinfonia n.º 3" uma canção polonesa do século 15. Seus dois quartetos de corda, compostos em 1988 e 1991, quase se despem do tempo forte, como no "organum" medieval.
Não é fácil de ouvir, embora algumas melodias extáticas possam se confundidas com "new age".
Enquanto seus companheiros de geração afundaram na especulação de sons e na invasão abstrata e se afastaram do público, desde o início da carreira, em 1955, Górecki procurou o efeito emocional com uma arte individualista e retroativa. Um projeto arriscado num fim de século de disformes conglomerados artísticos.
Essa atitude tem consequências na cena musical contemporânea. Górecki hoje influencia o canto gregoriano. Apesar deste constituit uma tradição medieval e impessoal, Górecki atualizou-a e personalizou-a. Ouvir cantochão hoje é ouvir o que Górecki fez deles nas suas 64 composições catalogadas.
O compositor teria muito a ensinar aos músicos experimentais brasileiros, mas não quer fazer palestras nem workshops no Brasil. Participa apenas de um encontro formal com maestros e compositores no dia seguinte ao concerto em Campos.
Gorécki é deficiente físico - tem uma perna menor que a outra - e não gosta de dar entrevistas. Mesmo porque só sabe falar em polonês.
Até o estrelato, não saía de sua cidade, Katowice (a 80 km de Cracóvia). Passou quase incógnito pelo comunismo, embora os militares poloneses o citassem como orgulho nacional nos anos 70 e 80.
Hoje tem que recusar convites no mundo todo. Segundo a produção do festival, ele só aceitou o convite porque disse ter simpatia pelo Brasil e quer conhecer o país. Volta a Katowice no dia 19.

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sobre Górecki e orquestra à pág. 5-5

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