São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Franceses são acusados de matar líder de Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Soldados franceses foram acusados de terem matado o presidente de Ruanda Juvenal Habyarimana no dia 6 de abril. O atentado que derrubou o avião em que Habyarimana viajava desencadeou a guerra das duas etnias do país que matou mais de 500 mil pessoas.
O jornal "Le Soir", de Bruxelas, disse ontem que dois militares franceses do Destacamento de Assistência Militar e Instrução (Dami) atiraram no avião.
Eles estariam a serviço da Coalizão para a Defesa da República (CDR). O CDR é o grupo radical da etnia hutu que integrava o governo de Habyarimana.
Os hutus, majoritários no país, dominam o governo. O CDR se opunha à crescente participação da minoria tutsi na política.
A França negou a acusação. "Rumores sem sentido implicando outros países já circularam", disse o chanceler Alain Juppé.
Em reunião da União da Europa Ocidental (UEO) em Bruxelas, a França não conseguiu convencer seus parceiros a formar um tropa de intervenção em Ruanda. Alguns dos nove países membros da União –aliança militar européia que começa a ganhar maior presença com a consolidação da União Européia– prometeram ajuda material e apoio mas descartaram o envio de tropas.
A França se disse disposta a enviar até 2.000 homens para interromper os massacres em Ruanda.
Só a Itália não excluiu o envio de homens. Haverá nova reunião na próxima semana. Integram a UEO França, Itália, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Portugal, Espanha e Alemanha.
Membros da Frente Patriótica Ruandesa disseram que vão atirar contra todo soldado francês que entrar no país. A frente rebelde, dominada pela minoria tutsi, acusa a França de apoiar o governo.
Jean Carbonare, da Federação Internacional dos Direitos Humanos, acusou o presidente francês, François Mitterrand, de cumplicidade nos massacres em Ruanda.
Carbonare participou no ano passado de uma investigação sobre a atividade de esquadrões da morte ligados a Habyarimana.
Seu relatório mostrava a estrutura dos grupos radicais hutus e identificava seus chefes, alguns dos quais, membros do governo.
Carbonare disse ter informado o governo francês que continuou apoiando Habyarimana.
Michel Roussin, ministro francês da Cooperação, disse que Paris apoiava o presidente morto porque ele era a única pessoa "capaz de impor uma abertura democrática".
Negociações em Kigali foram interrompidas ontem. Um major do Exército uruguaio servindo as tropas de paz da ONU foi morto em ataque atribuído aos rebeldes.
A ONU cancelou a retirada de civis da capital por causa de combates de artilharia durante toda a madrugada de ontem.
Também durante a madrugada rebeldes invadiram uma instituição religiosa que os milicianos pró-governo usavam como prisão. Foram libertados cerca de 600 tutsis mantidos como prisioneiros.
Os governistas atacaram um hotel no centro de Kigali onde se refugiam cerca de 600 civis. Aparentemente estavam em busca de rebeldes. Não houve baixas.

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