São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Itamar dá ultimato para sucesso do real

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco está disposto a dar um prazo de 30 dias, a partir da data de lançamento do real em 1º de julho, para a equipe econômica mostrar os resultados práticos do programa de estabilização.
Nesse período, Itamar tolerará taxas de juros elevadas, mas já avisou que espera que se concretizem as projeções da equipe do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, como a estabilização dos preços e aumento da massa salarial após a adoção da nova moeda.
Segundo a Folha apurou, o presidente tem dito a interlocutores do grupo de Juiz de Fora que foi paciente com a Fazenda e, a contragosto, aceitou os argumentos técnicos da área econômica sobre a inconveniência do controle de preços, taxas de juros baixas, aumento do salário mínimo e expansão de gastos orçamentários.
Resultados
Por isso mesmo, Itamar quer resultados rápidos do Plano Real, porque avalia que seguiu corretamente o receituário da equipe do Ministério da Fazenda.
Em conversas com o grupo de Juiz de Fora, Itamar mostra desconfiança diante do argumento do Ministério da Fazenda de que não houve perdas salariais com a conversão dos salários em URV (Unidade Real de Valor).
O presidente avalia que a equipe econômica controlou os salários, mas deixou os preços livres.
Por isso, a decisão do Planalto de fixar regras para as mensalidades escolares, aluguéis e planos de saúde.
Essa inquietação do presidente Itamar Franco preocupa o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, e o candidato da aliança PSDB–PFL–PTB, Fernando Henrique Cardoso.
A cúpula do PSDB comenta que, em julho, o presidente tem "um acordo tácito" com a equipe econômica e não deverá interferir na estratégia montada pelo Ministério da Fazenda.
Tanto Ricupero quanto o ex-ministro Fernando Henrique Cardoso têm medo de que o presidente Itamar Franco se irrite nas primeiras semanas do real.
Poupança
Nesse período, a equipe prevê elevação das taxas de juros, confusão entre a população sobre a conversão de cruzeiros reais para a nova moeda e desapontamento com o índice de correção da poupança.
Os estrategistas da campanha do candidato tucano estão apreensivos com os rendimentos da caderneta de poupança em agosto, quando se inicia o horário eleitoral gratuito.
Como a inflação cairá em julho, os rendimentos serão menores. Teme-se que a população não compreenda que a remuneração da caderneta será menor porque a inflação também está mais baixa.
A equipe econômica também tem essa preocupação e concentra parte da campanha institucional do real no estímulo à poupança.
Nos últimos seis meses do governo Itamar Franco, os ministérios da Fazenda e Planejamento também apostam no aumento das pressões para gastos e receiam que o presidente não resista às reivindicações do seu ministério.
Os ministros da Integração Regional, Aluízio Alves, da Agricultura, Synval Guazzelli, das Comunicações, Djalma Moraes, e das Minas e Energia, Alexis Stepanenko, são apontados na Fazenda e no Planejamento como gastadores.

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