São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Peter Drucker fala de empresas e jovens

RICARDO GANDOUR
EDITOR DE SUPLEMENTOS

Peter Drucker está ligado a tudo o que se fala hoje sobre gerenciamento e estratégia de empresas. Aos 84 anos, o "pai da administração moderna" é o maior guru empresarial ainda vivo do século.
Austríaco –nasceu em Viena em 1909 e cursou direito na Alemanha–, Drucker foi um "liquidificador" de conceitos. Misturou artes orientais, direito internacional, jornalismo, economia e política para entender as empresas e ajudar a aprimorá-las.
Tem seu gabinete na Claremont Graduate School, em Claremont, arredores de Los Angeles, costa oeste dos EUA.
No próximo dia 30 ele estará em São Paulo para o seminário "A nova administração e a nova empresa", no Palácio das Convenções do Anhembi, promovido pela HSM Cultura & Desenvolvimento, com apoio da Folha.
Pedimos a Drucker, nesta entrevista respondida por fax, que contasse como vê as mudanças por que passam as empresas, o que espera para o próximo século e que desse conselhos para os jovens profissionais.

CONHECIMENTO
Mais do que dinheiro ou mão-de-obra, o conhecimento está se tornando o recurso mais importante da produção.
O comando e o controle não mais imperam. A informação é hoje o princípio organizativo.
SERVIÇOS
Mais do que fabricar ou transportar coisas, os serviços estão se tornando o centro de gravidade de todas as economias desenvolvidas.
É onde se encontram os bons empregos, mas também os desafios.
FUNCIONÁRIOS
Os funcionários com conhecimento sabem mais sobre seu trabalho do que seus chefes. Também podem deslocar-se para onde quiserem. Estão se tornando o recurso mais escasso.
GLOBALIZAÇÃO
A maioria das empresas vai continuar operando num mercado razoavelmente pequeno –local, nacional ou regional–, mas a economia em si e a competição se tornaram globais.
PEQUENAS EMPRESAS
Ser grande deixou de ser uma vantagem. O mesmo se aplica à diversificação.
A empresa bem-sucedida de amanhã terá tamanho médio.
MUDANÇAS
Cada empresa precisa se reinventar. Isso significa colocar-se as seguintes perguntas: qual é nosso setor de atividade? quais são os pressupostos sobre os quais fundamentamos a empresa –relativos aos clientes e ao mercado? e os não-clientes, que preferem nossos concorrentes? a tecnologia que usamos e assim por diante –tudo isso ainda é válido?
PACIÊNCIA
Não existem soluções rápidas. Um instrumento é a Reengenharia e da Administração pela Qualidade Total. Mas outros, como Benchmarking (imitar o modo de operar dos concorrentes bem-sucedidos) e Análise de Valor Econômico, são absolutamente necessários.
CONSCIÊNCIA
O ponto de partida precisa ser admitir que cada empresa, do modo como está constituída hoje, provavelmente está prestes a se tornar obsoleta.
MOMENTO HISTÓRICO
As transformações são tão profundas quanto aquelas ocorridas depois de 1800, quando começou a Revolução Industrial, e aquelas ocorridas entre 1880 e 1900, quando as chamadas indústrias "modernas" –elétrica, química, automotiva, telefônica, de bancos etc.– introduziram a segunda revolução industrial.
COMO MUDAR
Primeiro é preciso pensar quais as mudanças necessárias. Depois, escolher uma parte –uma função, um departamento ou um processo– da empresa que: a) quer mudar; b) seja dirigida por alguém que a organização respeita.
CONSELHOS
Não tentem transformar a empresa inteira da noite para o dia –não funciona. Não falem em "mudar a cultura da empresa" –não funciona.
Trabalhem em uma área em que exista receptividade para mudanças –por exemplo, o relacionamento entre o setor de vendas e o setor de serviços em uma empresa que vende produtos tecnicamente sofisticados, que exigem muita manutenção e serviços.
E procurem uma área em que o executivo encarregado esteja ansioso por mudanças, mas que também seja altamente respeitado dentro da organização.
SER DISCRETO
Assegurem-se de que seu sistema de recompensas –aumentos e promoções– premie o novo comportamento. Não façam anúncios espalhafatosos das estratégias.
O SÉCULO 21
Não vai haver um único centro econômico. Estamos ingressando em um mundo multicentrado, no qual nenhum país isolado se encontra em posição de vantagem.
E pode-se afirmar que a mão-de-obra barata não será vantagem nenhuma, menos ainda no setor manufatureiro, pois os custos de mão-de-obra manual nesse setor já são tão baixos que reduzi-los mais não faz sentido.
As vantagens competitivas serão obtidas por qualidade, rapidez, inovação, serviço e estratégia.
AOS JOVENS
A mensagem a dar aos jovens de hoje é clara. Primeiro: conheça suas próprias forças, aumente-as e avance baseado nelas.
Segundo: continue aprendendo –você precisa voltar à escola pelo menos a cada três anos.
Para concluir: assuma a responsabilidade por sua própria carreira e sua própria colocação.

Tradução de Clara Allain

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