São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Rhodia aposta na participação dos empregados

DA REPORTAGEM LOCAL

A forma clássica de organização das empresas, baseada em regras burocráticas e na segmentação –distribuição de tarefas de acordo com o sistema de comando e controle– está superada.
A velocidade atual de aquisição do conhecimentos impede a sobrevivência de regras inflexíveis e verdades permanentes.
O trabalho na nova organização se baseia no envolvimento e participação de todos nos planos e objetivos da empresa.
Esse é o ponto de partida da nova filosofia de gerenciamento adotada pela Rhodia, segundo André Leite Alckimin, consultor industrial da empresa.
Para Alckimin, "a forma de organização feita para um mundo em que se vivia no mesmo universo de conhecimento dos pais ou dos avós, que foi iniciada por Bismarck na Alemanha, 150 anos atrás, não serve mais".
Durante a palestra feita na última segunda-feira, dentro do ciclo "A Busca da Qualidade Total", no auditório da Folha, Alckimin disse que a nova filosofia gerencial exige que se "trabalhe com a pessoa inteira".
A nova filosofia de gerenciamento, segundo ele, busca trabalhar com os três lados do ser humano –racional, emocional e físico.
"O lado físico é representado pelo prazer de fazer, pelas metodologias, pelas regras e políticas. O emocional, pelo ambiente na empresa. O racional, pelos conceitos, pelo entendimentos das lógicas".
O gerenciamento segmentado das organizações tradicionais, onde "uns fazem umas coisas, outros fazem outras e alguém distribui, comanda e controla o trabalho" só pode existir em um ambiente "pouco turbulento, onde o saber é difícil de ser alcançado e existe baixa velocidade de aquisição de conhecimento", explica.
Esse quadro, segundo ele, mudou em mundo interligado por computadores e fibras óticas.
Complementaridade
Um dos conceitos fundamentais da nova filosofia de gerenciamento, que há nove anos vem sendo aplicada na Rhodia, é o princípio da complementaridade.
"Na organização clássica se diz que o chefe sabe mais. Na nova organização, o chefe sabe algumas coisas, o operário outras. As perspectivas são diferentes e um complementa o outro", afirma.
Ele diz que o princípio é indispensável para "se poder falar em participação, negociação e convicção dentro de uma empresa". É fundamental, também a mudança na noção de competição.
"É preciso substituir a noção de competição contra alguém pela de competição com alguém. Nesse caso, um estimula o outro para se atingir um determinado objetivo".
Alckimin dá um exemplo de um episódio dentro da Rhodia em que a utilização da experiência dos operários possibilitou economia de US$ 20 milhões.
"Antes da adoção dessa nova filosofia gerencial, nossos engenheiros construíram uma fábrica em Paulínia. Ela custou US$ 20 milhões. A capacidade máxima de produção era de 4.500 toneladas".
"Aí começamos a trabalhar com o princípio da complementaridade. "Com participação dos trabalhadores e investimento de apenas US$ 18 mil, duplicamos a produção e melhoramos a qualidade".
Confiança
Para Alckimin, se do lado racional, a complementaridade é fundamental, do lado emocional (ambiente de trabalho), a questão da confiança é "crucial".
Na Rhodia, segundo ele, não há mais controle de cartão de ponto, vale-refeição, almoxarifado e liberação de veículos.
"Antes, para se conseguir um veículo existiam 16 etapas a serem cumpridas. Agora basta pegar a chave. No almoxarifado, não há mais guarda, nem porta fechada. A pessoa pega o que precisa e anota".
Segundo Alckimin, "o consumo caiu para menos da metade. Quando tratados com dignidade, os trabalhadores são mais controladores que os próprios chefes".
Em relação ao aspecto físico, ou da metodologia, Alckimin destaca o planejamento estratégico compartilhado.

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