São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Jogadores escondem o voto para presidente

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

Se depender dos jogadores da seleção brasileira de futebol, o próximo presidente da República seria eleito por uma minoria em 3 de outubro.
Há dois jogadores, Bebeto e Paulo Sérgio, que não fazem questão de votar.
Outros três preferem não revelar em quem vão votar na eleição de 3 de outubro.
Os dados acima são resultado de uma enquete feita pela Folha com a delegação brasileira nos Estados Unidos durante a semana passada.
O outro voto declarado é de Muller. O atacante reserva disse que votará em Orestes Quércia (PMDB) para presidente em 3 de outubro. Quércia foi um dos padrinhos do segundo casamento de Muller.
"Nem sei" e "não pensei" foram as frases mais ouvidas dos jogadores quando o assunto era a eleição presidencial. "Não sei nem quem são os candidatos", disse o meia Mazinho.
A despolitização da maioria dos 22 jogadores da seleção é revestida de uma preocupação –pelo menos é o que dizem– com a influência que podem ter sobre os torcedores.
Como se tivessem combinado, os jogadores Dunga, Zetti, Leonardo e Gilmar deram respostas semelhantes.
Não querem divulgar o voto porque "está errado influenciar uma pessoa que seja", segundo Leonardo.
Desacostumados a falar de algo que não esteja relacionado ao dia-a-dia da seleção, muitos acharam a pergunta da Folha estranha. "Essa pergunta me pegou de surpresa", disse o recém-promovido a titular, Márcio Santos.
Para alguns jogadores, fala mais alto o medo de dizer algo que desagrade a comissão técnica. "Você acha que eu vou dizer? Ainda mais aqui. 'Tá louco, meu?", declarou o centroavante corintiano Viola à Folha.
O mais jovem do time, Ronaldo, de 17 anos, afirma que já se decidiu. Mas não revela sua preferência pelo mesmo motivo de Viola: medo de ser repreendido.
Ricardo Rocha, considerado um dos líderes da seleção entre os jogadores, tentou elaborar um pouco sobre sua indecisão.
"Tudo tem que ser por etapas. Primeiro, o Vasco. Agora, a seleção. Quando voltar ao Brasil, a eleição", disse Rocha. Não explicou por que estaria impedido de pensar na eleição enquanto serve à seleção.
A seleção tem 12 jogadores cujos passes pertencem a times no exterior. Os dois votos de Lula estão nesse grupo. Mas estão aí também os que já desistiram de pensar no assunto.
"Estou na Espanha e não vou votar. Vou justificar. Estou muito decepcionado. Em 89, votei no Collor", disse Bebeto.

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