São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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O futebol moderno é uma ficção, uma obsessão do nosso Teimoso

MARCELO FROMER; NANDO REIS

MARCELO FROMER e NANDO REIS
Amanhã entra em campo a nossa seleção, e o que poderia ser uma certeza não passa de um enorme ponto de interrogação.
Ao invés de números estampados em suas costas, as camisetas de nossos craques carregarão absurdos pontos de interrogação.
Afinal de contas, que futebol estamos jogando, ou melhor, que futebol iremos jogar? Nem Jesus Cristo, se consultado, saberia responder a isso, afinal qual é a cara do nosso time?
Não estamos nem perto do "melhor" futebol europeu, e pior, estamos anos luz do nosso próprio futebol.
Mas nos resta ainda a esperança de que alguns dos nossos jogadores mesmo acostumados aos invernos dramáticos que enfrentaram jogando na Bundesliga, reconheçam novamente o que é jogar no calor. Ou ainda, jogar com calor.
Foi preciso quase um mês de treinamento em clima de deserto para que os nossos jogadores tentassem escovar de seus sobretudos as lembranças tristes dos rigores do inverno europeu. Mas será que eles realmente deixarão nos vestiários as vestimentas fúnebres que ainda lhes impinge o nosso treinador? Esperamos que sim.
O grande motivo da nossa preocupação é com a atual apatia do futebol que vêm jogando nossos craques. Apatia que aparentam quando não participam da discussão do esquema tático adotado por Teimoso.
Em todas as entrevistas o que se pôde ouvir foram declarações evasivas e que tentam esconder o óbvio: este é um time que parece jogar contrariado, perseguindo quase com obsessão o modelo fictício do falsário "futebol moderno".
Nesse "futebol moderno" não há nada de belo. O nosso futebol não precisa mais dessas lições de casa. Nós é que deveríamos voltar a ensinar a todos como se joga futebol, nem que seja por cursos de correspondência.
Afinal não é esse o motivo que leva os europeus a importarem seguidamente para as suas temporadas hordas e hordas dos nossos exemplos delirantes de jogador? Mas ironicamente os nossos atletas se referem ao nosso treinador como "Professor".
Esperamos que esse estranho professor não esteja rabiscando com seu teimoso giz um gigantesco quadro negro. Ou que pelo menos os nossos jogadores ainda se lembrem de como faziam para matar uma aula.

Marcelo Fromer e Nando Reis são integrantes da banda Titãs. Sua coluna na Copa sai aos sábados, domingos e segundas-feiras.

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