São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994 |
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Longo examina economia como um hematologista
CLÓVIS ROSSI
Ao hematologista, compete dizer se há muitos ou poucos glóbulos brancos ou vermelhos no sangue, sem se preocupar com o nome do paciente, com a sua história clínica, se ele fuma ou bebe. É, portanto, uma análise econômica que tenta ser o mais científica possível, ainda que muita gente, inclusive economistas, se anime hoje a discutir se economia é ou não uma ciência. É claro que não é neutra a lupa com a qual Longo examina o sangue que corre nas veias da economia brasileira. Longo é um liberal de carteirinha e todas as suas análises estão, invariavelmente, embebidas dos preceitos que os liberais em geral consideram indispensáveis para atestar a qualidade de um plano ou de uma situação econômica. O que o livro perde, por isso, em termos de visões diferenciadas da realidade ganha em coerência. Como o livro recupera artigos publicados em jornais, quase todos na Folha, no período que vai de 1984 a 1994, examina todos os planos de estabilização tentados no período, do Cruzado ao FHC. A vantagem (ou desvantagem, conforme o ponto de vista) é que a análise mede todos esses planos com o mesmo metro, a do liberalismo. Revistos depois de muito tempo transcorrido, alguns dos artigos têm o mérito de revelar uma tranquilidade que, no calor do momento em que foram publicados, a maioria seria incapaz de exibir. Para citar um só exemplo: às vésperas do naufrágio total do Cruzado, ocorrido em novembro de 1986, Longo é ainda capaz de iniciar a análise com uma frase desapaixonada. "É inegável que o Plano Cruzado carece de emendas", diz a primeira frase. Não fosse Longo um hematologista da economia, diria diretamente que o plano era um moribundo apenas à espera do atestado de óbito. Texto Anterior: Ensaios polemizam em torno da antropologia contemporânea Próximo Texto: Solidão ilumina pontos fracos Índice |
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