São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Executivos se arriscam em esportes 'radicais'

DEL JONES
USA TODAY, DE ARLINGTON

A Walt Disney perdeu seu muito valorizado 2º executivo porque ele não se contentava em jogar golfe. Frank Wells morreu em abril, aos 62 anos, depois de passar alguns dias esquiando, quando o helicóptero em que voltava caiu nas montanhas do Nevada.
Executivos importantíssimos de outras empresas arriscam suas vidas praticando alpinismo, corrida de automóveis e mergulho.
Muitas empresas não deixam dois de seus executivos voarem no mesmo avião. Se eles fossem tratados como atletas profissionais, teriam que assinar contratos abrindo mão de hobbies que colocam suas vidas em risco.
Acionistas de empresas nunca deram muita atenção à possibilidade de ocorrência de acidentes fatais possíveis de serem impedidos –talvez porque sejam raros.
Wells faz parte da pequena lista de executivos vítimas de acidentes deste tipo.
A lista inclui Robert Goldstein, que controlava o maior orçamento publicitário do mundo, para a Procter & Gamble, até morrer seis anos atrás, quando descia uma cachoeira num bote inflável.
Algumas empresas incentivam os hobbies perigosos porque acham que eles alimentam o espírito de iniciativa e coragem que leva seus chefes a escalarem o monte Everest do sucesso.
"A verdade é que as pessoas que gostam de aventuras e assumem riscos muitas vezes fazem bons executivos", diz Ralph Whitworth, presidente da Associação dos Acionistas Unidos.
Mas nos dias que se seguiram à morte de Wells, os acionistas da Disney viram o valor de suas ações cair em quase US$ 1 bilhão.
Isso leva ativistas como Whitworth a pedir que os executivos sejam obrigados a revelar quais são suas atividades fora da empresa.
Se uma pessoa de papel crucial numa empresa quer praticar heli-esqui –deslocar-se de helicóptero para esquiar em montanhas selvagens onde existe a possibilidade de avalanches–, que o faça.
Mas os acionistas devem ser informados do fato antes de investirem na companhia.
Existem outros executivos-chefes que acreditam que se deve correr riscos não apenas nos negócios, mas também na vida.
Richard Branson, da Virgin Airways, o executivo-chefe mais conhecido do Reino Unido, já foi resgatado do mar duas vezes após fazer travessia parcial do Atlântico numa lancha e num balão.
Jann Wenner, 48 anos, editor da revista "Rolling Stone", procura não correr risco de vida com seus hobbies: andar de moto e praticar heli-esqui. Ele diz que já chegou perto disso algumas vezes, mas não dá maiores detalhes.
Yvon Chouinard, 55 anos, presidente da empresa de roupas esportivas Patagonia e amigo de Frank Wells, pratica alpinismo, caiaque e mergulho.
Chouinard diz que a maioria dos executivos que correm riscos procura aventuras num mundo em que "a palavra aventura não tem o mesmo impacto de antigamente". Por que eles o fazem? "É zen."
Outros também dão explicações do tipo zen. Eles nunca falam em coragem em adrenalina, apenas em calma e paz de espírito.
Quando a pessoa joga golfe, sua mente pode voltar, inadvertidamente, para problemas do trabalho. Mas quando escala montanhas ou dirige em alta velocidade, ela não pensa em nada exceto a tarefa em que está engajada no momento.

Tradução de Clara Allain

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