São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Estratégia da Opep faz subir preço do petróleo

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ministros da Opep mostraram que têm o bom senso dos técnicos de futebol. Não mexeram em time que estava ganhando.
Na reunião que tiveram esta semana em Viena, na Áustria, falaram de tudo –menos sobre preços e cotas de produção de petróleo.
Não havia mesmo por quê. O petróleo está em alta desde março, quando eles se reuniram pela última vez e decidiram manter a produção do cartel em 24,5 milhões de barris por dia até o final do ano –um pouco abaixo da demanda estimada em 24,8 milhões.
Desde então, as cotações subiram mais de US$ 3. Na sexta-feira, no dia seguinte ao fim da reunião da Opep, a cotação do petróleo Brent, do Mar do Norte, fechou acima de US$ 17. Esse tipo de petróleo é o termômetro mais observado do mercado.
Para garantir que as coisas continuem como estão, a Opep decidiu cancelar a reunião programada para setembro. Foi uma maneira de avisar o mercado de que, pelo menos até meados de novembro, quando se realiza o encontro anual da organização, a decisão de março será mantida.
A estratégia da Opep terá maior impacto se, como se espera, os países industrializados aumentarem o consumo devido à aceleração de suas economias.
Foi esse ritmo econômico –mais do que os muitos problemas de produção em vários países– que sustentou a tendência de alta do petróleo desde março, quando as cotações chegaram ao nível mais baixo dos últimos cinco anos.
A valorização do petróleo pegou a maioria dos analistas no contrapé. A revista americana "Forbes" ironizou que os que previam a baixa foram os mesmos que, na crise dos anos 70, acharam que o barril iria a US$ 50.
O que fará o petróleo continuar subindo a longo prazo é que, para uma demanda crescente, não deverá haver a contrapartida de novos suprimentos substanciais. Não, pelo menos, enquanto o preço não for alto o suficiente para estimular investimentos em campos hoje inexplorados.
Os especialistas estimam que se o barril chegar a US$ 25 haveria produção adicional nos Estados Unidos. Caso contrário, a produção –que caiu de 9 milhões de barris por dia em 86 para 6,7 milhões– provavelmente continuaria a declinar.
No curto prazo, ninguém acredita que a curva dos preços continuará apontando sempre para cima. Economistas da própria Opep admitem que a tendência de alta não está consolidada e que flutuações são esperadas.
O que a Opep teme é o rápido crescimento dos estoques de petróleo nas mãos das indústrias. Quando esses barris forem desovados, provavelmente mais para o final do ano, os preços recuariam.
Para o Brasil, a tendência é desfavorável, mas não chega a ser desastrosa porque o país reduziu drasticamente a dependência do petróleo importado.
Nos anos 70, o Brasil comprava mais de 80% do petróleo que consumia. Em 79, na segunda crise do petróleo, a situação chegou ao ponto mais complicado, com as importações equivalentes a 85% do consumo.
Esse foi o auge da dependência externa. De lá para cá, a participação das importações no consumo foi reduzida à metade.

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