São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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A Copa da Saúde

GEORGE WASHINGTON CUNHA

Alô, você! Milhões de pessoas assistirão ao vivo e pela TV os jogos da Copa do Mundo 94. Vamos ao tetra ou voltaremos como campeões morais?
No Brasil, a seleção de profissionais da saúde disputa com a doença, infecções e mortalidade a Copa da Saúde, um torneio de vida ou morte para obter a cura ou a reabilitação de milhares de doentes brasileiros classificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No velho estádio-hospital, jogadores improvisados exibem criatividade e atuam contra a dor, o sofrimento e a falta de vagas. O paciente e os bandeirinhas são o atendimento e a recuperação. A seleção forma com o administrador no gol.
Na defesa o psicólogo, os recursos humanos, o assistente social e a fisioterapeuta. No meio de campo temos o farmacêutico, o nutricionista, a enfermeira e o bioquímico.
O farmacêutico, como médio volante, é responsável pela distribuição de passes e jogadas, digo remédios e informações.
A nutricionista, o meia direita, alimenta o ataque com passes precisos, quer dizer, dietas adequadas, não muito apreciadas pelos pacientes internados.
O velho meia de ligação é a enfermeira camisa 10: carrega o time nas costas e tudo gira em torno dela, obrigando-a a correr atrás dos jogadores e até dos gandulas (acompanhantes).
Completando o meio de campo, temos o bioquímico, um falso ponta recuado, indo à frente (colhendo material) e recuando (fazendo exame) quando o time precisa se defender.
No ataque estão os mais valorizados e famosos craques da saúde, elogiados pela imprensa, aplaudidos pelos convênios e idolatrados pela torcida: o clínico e o cirurgião.
O símbolo da Copa da Saúde é o pique de trabalho. A exemplo do futebol, a categoria dos jogadores se mede pela qualidade individual no trato com o doente. E é isso que a torcida espera: competência e atendimento humanizado.
O adversário mais forte é a perigosa seleção da doença: septicemia, desidratação, terminose, hemorragia e úlcera. Meningite, tuberculose, hipertensão e infarto. Aids e câncer.
Na Copa da Saúde, há muitas faltas: de pessoal, de material e de remédios. Há greves de funcionários e quilométricas filas de espera para se conseguir ingresso (senha).
A pelota rola e o placar (estatística) mostra que a doença vem ganhando de goleada, até mesmo em São Francisco.
Só não podemos esquecer que o Brasil é a pátria de chuteira no pé e cerveja na mão: isso é nº 1. O resto não interessa e saúde não tem pressa!

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