São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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"Larápios" desafiam o perigo nas lojas

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Larápios" desafiam perigo nas lojas
Psiquiatra acha que furtar "coisinhas" não é sintoma de cleptomania, mas vontade de transgredir normas
Ficar horas vagando por uma loja sem objetivo definido. Olhar para todos os lados. Depois, "discretamente", enfiar aquele objeto do desejo na mochila.
O próximo obstáculo é sair da loja sem ser visto pelos seguranças. Isso nem sempre é possível.
Segundo números da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), dos 35.548 casos atendidos pelos juizados de menores do Estado de São Paulo, de junho de 92 a setembro de 93, 26% referiam-se a furtos.
Marcos (os nomes dos adolescentes são fictícios), 22, quando tinha 15 anos, entrou em uma loja de departamentos e não resistiu à tentação de pegar um dropes de café.
Afinal, não havia ninguém por perto e "que mal faria pegar umas balinhas?". Mas Marcos foi visto pelos seguranças da loja. "Maldito dropes!", diz hoje.
Ele foi levado para uma "sala escura", onde ficou três horas. "O segurança gritava e me xingava." Marcos foi liberado, mas nunca esqueceu desse dia.
"Fiquei apavorado, não sabia o que podia acontecer comigo. Uma vez encontrei com o segurança na rua e saí correndo", diz.
Apesar de ser crime e de toda a paranóia de quem é "preso", o furto não é doença. Dar uma de "mão leve" eventualmente, não significa que a pessoa seja cleptomaníaca (veja quadro abaixo).
Segundo a psiquiatra Adriana Suplicy, esse comportamento está ligado à necessidade que os adolescentes têm de "transgredir as leis". "Acham que nada de mal pode acontecer com eles."
E essa infração teen é mais comum do que se pensa. "É o que mais tem", diz Paulo Palma, da loja de discos Billbox.
O pessoal das lojas geralmente prefere dar apenas uma "dura" na pessoa.
"Muitas vezes os lojistas nem encaminham para a segurança", diz Roberta Barros, gerente de marketing do shopping Paulista.
Apesar da segurança, muitos "larápios" passam despercebidos. Renata, 16, é um exemplo.
Ela furtou um sutiã e alguns cartões em uma loja de departamentos e não foi vista. "Não sei porque fiz isso, acho que foi para sentir o gostinho do perigo."

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