São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Falta didatismo à apresentação de série popular com repertório lírico

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer tentativa de popularização do repertório lírico é muitíssimo bem-vinda. Isso vale para a Polygram e sua coleção "Bom e Barato", com CDs em reedição.
São gravações de custos já amortizados quando do primeiro lançamento e que trazem, numa primeira batelada, a soprano Montserrat Caballé e os tenores Placido Domingo e José Carreras.
É pena que sejam edições de apresentação descuidada. Elas irritam o melômano interessado em enriquecer a discoteca com novas interpretações e o iniciante que se vê privado de um mínimo de didatismo.
É o oposto do que fazia, já nos anos 60, na Alemanha, a Deutsche Grammophon (selo que a Polygram utiliza no caso de Domingo e Caballé), que fez razoável sucesso com suas coleções populares.
Bastaria publicar em algumas linhas o enredo da ópera, situar o personagem e contextualizar a situação dramática que determinada ária exprime. Ou ainda fornecer uma ficha resumida com informações bibliográficas de cada cantor.
Sem essa contextualização, os solistas flutuam de maneira aistórica, como meros nomes próprios, pelo "star-system" que os tornou conhecidos.
Mas o "star-system" nem sempre acerta em seus critérios de valorização.
É esse nitidamente o caso de Carreras, que pode desta vez ser comparado com Domingo, um tenor primeiríssima linha no repertório romântico italiano.
Carreras é o herói choroso, que confunde respiração com soluços e cai com frequência no sofrimento exibicionista do personagem do qual é intérprete.
Confiram a segunda faixa, em que ele representa Manrico, de "Il Trovatore". Ou então a quarta faixa, em "Rigoletto" (os dois papéis são de Verdi).
Com Placido Domingo já se tem um profissional tecnicamente maduro, com uma leitura dramática dos papéis, capaz de captar ambiguidades e que deixa ao ouvinte um espaço semântico para compreensões multidirecionadas.
Ele é um excelente Mario Cavaradossi num trecho da "Tosca" (Puccini), em que é acompanhado pela Filarmônica de Viena e dirigido por Carlo Maria Giulini.
Quanto a Caballé, ela permanece por momentos em uma perfeição que tem sido ultrapassada por sopranos mais homogêneas.
Mesmo assim, magnífica soprano. A ária "Tu, tu, amore?", de Manon Lescaut (Puccini) exemplifica a grandeza furtiva de sua técnica, que consiste em procurar com a voz já em plena emissão a tonalidade correta para começar a pronunciar os versos do libretista.

Série: Bravo
Intérpretes: José Carreras, Montserrat Caballé e Placido Domingo
Lançamento: Polygram
Quanto: 18 URVs (cada CD, em média)

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