São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 1994
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Maradona quer levantar a taça de novo

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

Diego Armando Maradona, 33, já sofreu inúmeras acusações ao seu caráter e à sua personalidade. Foi espezinhado na Itália, depois que um exame anti-dopping apontou a ingestão de cocaína.
Saiu bem humilhado da Velha Bota, no meio de um processo de paternidade que acabou perdendo - o caso de Cristiana Sinagra, mãe de um menino, hoje com oito anos, batizado Dieguito.
Queimou cerca de US$ 3 milhões em inutilidades, da suspensão de seu contrato com o Napoli à impossibilidade de vender, ao preço justo, as suas duas máquinas assinadas pela Ferrari.
E ainda assim criou inimizades entre os seus colegas da seleção da Argentina. Não se puna Maradona, todavia, por deslealdade.
Há quase exatos quatro anos, no ocaso da Copa de 90, depois de protagonizar um escândalo mundial, via TV, ao xingar os italianos de "hijos de puta" no momento da premiação da Alemanha, Maradona se escafedeu discretamente do Olímpico de Roma - mas, entre lágrimas e desabafos, concedeu uma entrevista a este enviado.
Agora, mesmo recluso na sua concentração de Harrison, nas imediações de Boston, longe da mulher Cláudia e das suas "jóias preciosas", as meninas Dalmita e Giannina, ele se abala a conversar.
Diante da pergunta inicial, Maradona se assusta e ri. Sabia Dieguito que, de todos os participantes da Copa de 94, apenas ele e o uruguaio-americano Tab Ramos estão disputando o seu quinto certame oficial da Fifa?
"Impossível", diz ele, "eu só estive nos campeonatos de 82, 86 e 90. Cheguei ao quarto". Relembro um evento de 1979, com os juvenis de seu país, que Maradona carregou ao título universal, e o "pibe" novamente ri.
"Eu era outro, então". E como se definiria o Maradona de agora?
O craque pensou bastante no tema: "Um Maradona solitário, abandonado por falsos amigos, mas um Maradona com a maior vontade de vencer".
Sobre a rivalidade com o zagueiro Ruggeri, a antipatia pelo volante Redondo e o carinho pelo atacante Caniggia, Maradona prefere calar.
Rapidamente muda de assunto e engata na admiração que sente por Arrigo Sacchi, o mister da "Squadra Azzurra", que lhe fez charmosos elogios num jornal peninsular, "La Gazzetta dello Sport". "Prometi a Sacchi a minha camisa do jogo diante da Grécia, por mim, e em nome de minha família".
"Eu já entrei em campo em condições bem piores. Você se lembra, na Itália, antes da partida com o Brasil, o meu tornozelo ficou do tamanho de um melão".
Salvatore Carmando, o massagista do Napoli que Maradona contratou para assisti-lo exclusivamente para a Copa, confia na recuperação de seu pupilo.
Paralelamente, num gesto inédito na sua carreira de individualista e provocador, Maradona decidiu perfilhar uma tese que interessa a toda a comunidade do futebol.
"Está na hora de nós, os profissionais de mais fama, organizarmos uma associação, um sindicato internacional de jogadores como já existe aqui nos EUA".
O "pibe" se refere às entidades que negociam as soluções de seus problemas com as federações e, no caso tipicamente americano, com os proprietários dos clubes.
"Fazer com que as partidas deste Mundial se desenvolvam em horários malucos, debaixo de 35 graus de calor apenas por causa da TV, é uma estupidez".

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