São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Cai o dólar

A forte queda do dólar em relação às demais divisas internacionais destes dois últimos dias foi atribuída à expectativa de inflação americana, devida à alta no preço das commodities. A retomada do crescimento dos EUA deixa latente a possibilidade de que surjam pressões inflacionárias. Antecipando-se a isso, o banco central dos Estados Unidos, o Fed, veio elevando as taxas de juros neste semestre.
A subida no preço das matérias-primas foi considerada um sinal de que os juros ainda não estavam bastante altos e subiriam mais. Essa perspectiva fez com que o mercado se afastasse dos ativos em dólar, aguardando para comprá-los após a esperada elevação dos juros. Essa fuga do dólar causou a queda na cotação da moeda.
Parece claro que esses movimentos resultarão em mudanças, talvez importantes, no cenário internacional. Evidentemente, o momento não permite que se façam afirmações definitivas, mas tudo indica que após a turbulência tende a consolidar-se uma taxa de juros ainda um pouco mais elevada nos EUA.
A recusa do Fed em sancionar a elevação de juros, apesar do forte movimento do mercado, levou à especulação adicional de que as autoridades monetárias estariam avaliando a possibilidade de um ajuste mais permanente nas taxas de câmbio. Ainda que em maio o secretário do Tesouro dos EUA, Lloyd Bentsen, tenha afirmado que aos EUA não interessava uma desvalorização, a queda no valor do dólar favoreceria as exportações norte-americanas. Nesse caso, a subida dos juros seria menor, ou pelo menos tardaria mais a ocorrer.
Para o Brasil, uma elevação nos juros internacionais não seria favorável. Taxas externas mais altas reduziriam a diferença em relação aos juros internos e, portanto, a atratividade do mercado nacional para o investidor estrangeiro. Ademais, juros mais altos significam maiores custos na rolagem da dívida externa, ou seja, maiores gastos para o governo brasileiro.
É lento, entretanto, o efeito dessas eventuais mudanças. O volume recorde de reservas dá ao país uma boa margem de manobra, e um possível aumento de gastos com a dívida externa seria paulatino. Assim, o impacto imediato para Plano Real tende a ser pequeno, mas para o futuro pode-se prever a existência de limites mais estreitos na condução da política econômica.

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