São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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O leitor decide

Pesquisa publicada pelo semanário "Editor & Publisher", veículo oficial dos órgãos de imprensa dos Estados Unidos, revela um saudável crescimento do apartidarismo dos jornais norte-americanos por ocasião das eleições presidenciais naquele país. De acordo com a pesquisa, reproduzida nesta Folha no último domingo, a porcentagem de jornais que não apoiaram nenhum candidato a presidente cresceu de 13%, em 1940, a 62% em 1992.
Num país em que a imprensa é uma instituição bastante sólida e influente, essa crescente opção pelo apartidarismo reflete uma relação cada vez mais madura e democrática entre os veículos informativos e seus leitores. Supera-se paulatinamente, assim, a velha idéia, paternalista e autoritária, de que a sociedade não está preparada para tomar suas próprias decisões.
Ao justificar sua resolução de não apoiar nenhum candidato na eleição de 92, o editor do "The Miami Herald" deu uma explicação que pode ser tomada como símbolo desse amadurecimento: "Temos a forte impressão de que os leitores têm recebido informação suficiente para resolverem". Aí está a chave da questão: o dever do jornal é informar de forma tão isenta e completa quanto possível o leitor, para que a escolha deste seja a mais consciente e bem-informada.
Outro dado fornecido pela pesquisa, a porcentagem de apoio da imprensa aos dois principais candidados em cada pleito, mostra, aliás, que a pregação editorial não se converte necessariamente em votos. Exemplos flagrantes são os das eleições de 1940, vencidas por Franklin Roosevelt apesar da opção de 64% dos jornais por seu adversário (Wendell Willkie), e de 1960, em que John Kennedy venceu os 58% de preferência por Richard Nixon manifestada pela imprensa.
Os jornais dos EUA parecem estar interpretando corretamente a mensagem contida nesses dados. Apartidarismo no noticiário e nos editoriais, posição que esta Folha vem procurando praticar com empenho, é, por certo, a melhor maneira de respeitar a liberdade de escolha e a inteligência do leitor.

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