São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Fascismo nasce na Itália contra 'perigo vermelho'

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A história do fascismo se confunde com a de Benito Mussolini (1883-1945), que criou o movimento fascista em março de 1919.
A Itália foi o primeiro país a assistir a ascensão de um movimento antibolchevique, anti-socialista, nacionalista e corporativo, que tinha no uso da violência um de seus principais eixos políticos.
Com Mussolini no poder, o fascismo organizou-se em outros países. Adolf Hitler, o criador do nazismo, tinha-o em alta conta.
O "Duce", como era chamado, dominou a Itália de 1922 até 1943. Neste ano, em 25 de julho, uma reunião do órgão máximo do fascismo derrubou-o.
Mussolini foi preso. Mais tarde, os alemães tiraram-no de sua prisão no alto de uma montanha no centro da Itália.
O "Duce" montou um governo títere dos alemães no norte do país. A sede ficava na cidadezinha de Saló. O governo fascista durou pouco menos de dois anos.
Em 28 de abril de 1945, Mussolini e alguns companheiros, entre eles sua amante, Claretta Pettacci, tentaram fugir para a Suíça em um comboio de soldados alemães.
Os partisans italianos cercaram o comboio, reconheceram o líder fascista e o mataram. O corpo foi levado a Milão e exposto, pendurado de cabeça para baixo, na praça Loreto.
Hitler viu fotografias dos corpos e tomou a decisão de suicidar-se e ordenar a destruição de seu corpo e do de Eva Braun, sua companheira.
Mussolini ficou 23 anos no poder. Os adversários foram presos, deportados ou mortos. A imprensa livre foi eliminada.
Os fascistas foram os primeiros a perceber com toda a força o uso da propaganda e do rádio como instrumentos de condução política.
Mussolini, que na juventude foi jornalista e diretor de jornais, conhecia há muito as maneiras de ridicularizar a política de seus adversários. Uma de suas máximas preferidas dizia respeito à repetição da mentira como forma de criar a "verdade".
Com a chamada "Marcha Sobre Roma", em outubro de 1922, o rei Vítor Emanuel 2º convidou o líder fascista a assumir o governo.
Os fascistas promoviam há tempos distúrbios no país. A situação econômica italiana não era boa. A política, muito confusa.
Os alvos principais dos fascistas eram o governo, os socialistas e o nascente Partido Comunista Italiano.
Uma das principais bandeiras mussolinianas tinha sido a da entrada do país na Primeira Guerra Mundial. Os fascistas acusaram os governos italianos de fraqueza durante a guerra.
As críticas aumentaram depois do final da guerra, no fim de 1918. A Itália não teve satisfeitas suas pretensões territoriais.
Mussolini valeu-se disso. Os mortos italianos no conflito eram usados como bandeira. O nacionalismo serviu também para enfraquecer a posição da esquerda, marcadamente internacionalista.
As sucessivas crises de governo facilitaram a posição de Mussolini.
Depois da tomada do poder, os fascistas continuaram atacando seus adversários. A democracia parlamentar foi gradativamente substituída por uma ditadura.
Um deputado socialista, Giacomo Matteotti, foi sequestrado e morto por um grupo armado pró-regime, em junho de 1924. Mussolini foi formalmente contra o crime, mas na verdade usou o terror como arma de dissuasão.
Depois de 1924, o fascismo não teve mais inimigos dentro do país. Mussolini modificou a legislação trabalhista, criando um Estado corporativo e vertical, onde patrões e empregados tinham nominalmente a mesma influência. Na verdade, os sindicalistas foram um dos alvos principais da polícia política.
O regime valeu-se do "perigo vermelho", o medo dos patrões e das classes médias frente ao comunismo soviético, para angariar mais apoio. Embora o fascismo tenha desde o começo tido uma política de ideologização das massas, o movimento nunca teve um apoio tão indiscriminado na sociedade italiana quanto o nazismo na Alemanha.
O regime promoveu uma expansão territorial. Invadiu a Etiópia. Em 1936, esse país foi anexado. "A Itália tem finalmente o seu império", gritou Mussolini à multidão reunida na praça Venezia, no centro de Roma.
Pouco depois, o ditador enviou soldados para auxiliar Francisco Franco a vencer a guerra civil na Espanha, ao lado dos nazistas.
O expansionismo alemão levou à deflagração de outro conflito mundial, em 1939.
Mussolini precisou de quase um ano para tomar uma decisão. Finalmente, em junho de 1940, impressionado com os triunfos alemães e a vitória contra a França, entrou na guerra ao lado de Hitler.
Achava que a guerra duraria pouco e queria estar ao lado dos vencedores. Foi seu grande erro.
A Itália, despreparada, tornou-se "o ventre macio" do Eixo (aliança criada em 1937, e que incluía Alemanha e Japão).
Os italianos acabaram rendendo-se em setembro de 1943 aos aliados, que haviam invadido a Sicília e depois o sul da Itália, vindos do norte da África.
Mussolini já fora deposto. Resgatado pelos antigos aliados alemães, levaria o país à guerra civil.

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