São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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Bares dinossauros resistem na noite

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Casas noturnas resistem na noite
Locais conseguem manter bom movimento após quase duas décadas sem se adaptar à moda
Algumas casas noturnas conseguem resistir com relativo sucesso ao tempo e às modas da cidade.
Victoria Pub, Saint Paul, Leiteria Sena e Últimas Nuvens da Alameda Principal são alguns exemplos de locais que ainda mantêm bom movimento e, principalmente, clientes fixos após quase duas décadas (leia texto abaixo).
Além da "idade avançada", essas casas têm algo mais em comum: nunca mudaram de proprietários e dizem manter frequência média diária de 150 a 400 pessoas desde que foram fundadas.
Cada casa escolheu uma tática de sobrevivência no concorrido setor de lazer noturno em São Paulo.
Para Flávio Constantino, 42, fundador da Leiteria Sena e do bar Últimas Nuvens da Alameda Principal, a estratégia é "manter o cardápio custe o que custar".
"Nunca mexemos em nada na decoração, disposição dos móveis ou no cardápio. Quem pedia determinada bebida 18 anos atrás pode ter certeza de que vai encontrá-la hoje no cardápio", afirma.
Constantino diz apostar também na "simplicidade" dos serviços para poder oferecer baixos preços.
"Por exemplo, com CR$ 10 mil um casal pode experimentar vários coquetéis ou cafés. E o que são CR$ 10 mil hoje em dia?"
O Victoria Pub também mantêm a mesma decoração (a maior parte dos móveis e objetos é do século 16) e alguns "mesmos" clientes e funcionários há 16 anos.
Apesar disso, a casa investe na diversificação de serviços para ampliar o número de frequentadores.
"Para durar, a única saída é trabalhar e inovar", diz Sydilson de Oliveira, 29, gerente do Victoria desde 1986.
"Fazemos de quatro a cinco eventos por noite e atacamos em todas as `frentes': vernissages, desfiles de moda, festas fechadas, aniversários..."
O Victoria também investe na variedade musical. Rock, blues, reggae, funk e country ao vivo fazem a trilha sonora a cada noite.
Outro exemplo de sobrevivência é a boate Saint Paul, 16.
Segundo a gerente Isa Geabra, a casa aposta principalmente na diversão para um público na faixa etária acima dos 30 anos.
O maior sucesso na boate, há 16 anos, são as "Noites Coloridas", às segundas e quintas-feiras.
"Só entram maiores de 30 anos", diz Isa. Na dúvida, afirma a gerente, os seguranças da casa não hesitam em pedir documentos.
Nas "Noites Coloridas", o som é flashback. É possível ouvir Donna Summer, Anita Ward, KC and the Sunshine Band, Jimmy Bo Horne e outros "dinossauros" da música dos anos 70 e 80.
É o mesmo repertório dos tempos áureos da boate, que já teve Roberto Carlos como um de seus principais habitués.
Já o Café Maravilha, 16, só resistiu ao tempo porque abandonou a tradição e a decoração original.
Carlos Linares, 30, dono do café há um ano e meio, foi quem "rompeu com o passado". "Trabalhei dois meses com a casa original e foi um fracasso. Reformei tudo e hoje tudo vai bem."

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