São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 1994
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O falso dilema

JOÃO OSWALDO LEIVA

O prolongamento da avenida Faria Lima é ou não prioritário para São Paulo? A sociedade tenta responder a essa pergunta sem perceber que se trata de um falso dilema. Prioridade é algo que definimos a partir de alternativas. E quantas alternativas temos hoje? Nenhuma. É fazer ou não a Faria Lima. Isto é falta de opção.
O trânsito da cidade é discutido mais uma vez de forma localizada, sem planejamento de longo prazo. Não se leva em conta a possibilidade da realização de outras obras em pontos mais necessitados. A discussão fica inconclusiva e vira confronto de radicalismos.
A qualidade de vida de São Paulo só vai melhorar com planejamento. As administrações de Mario Covas, Jânio Quadros e Luiza Erundina não estabeleceram um plano capaz de organizar o crescimento da cidade. Maluf segue o mesmo caminho.
O nosso último "Plano Diretor" –um zoneamento– é da década de 70. A cidade era a metade do que é hoje. Se desde a gestão Reynaldo de Barros a cidade tivesse ao menos um esboço de Plano Diretor hoje a questão da Faria Lima seria discutida dentro de um quadro racional e mais amplo de desenvolvimento.
O trânsito só vai melhorar com a ampliação da malha viária e investimento no transporte de massa. Corredores exclusivos para ônibus, alargamento e abertura de ruas e avenidas são indispensáveis.
Se o mesmo investimento fosse feito na construção de um corredor em direção a Itaquera, Guaianazes e Itaim Paulista, Capão Redondo ou Capela do Socorro ao invés do prolongamento da Faria Lima, o número de pessoas beneficiadas seria muito maior.
O planejamento moderno mede através de pesquisa origem-destino o número de veículos e pessoas que fazem determinado trajeto, calcula-se o tempo economizado em homens-hora e confronta-se com o custo da obra. Obtem-se aí o benefício por dólar investido. É um procedimento simples e objetivo. Através da comparação entre as alternativas escolhe-se a obra de maior interesse social, ou seja, a que beneficia mais pessoas por dólar investido.
Isto é feito em qualquer cidade moderna. Com planejamento antecipado, analisamos alternativas e definimos prioridades. Antecipando decisões todos lucram. O dono do imóvel evita construir num local que será desapropriado e mesmo fazer reformas dispendiosas. A prefeitura prepara processos desapropriatórios sem malabarismos, com tempo para buscar acordos que não prejudiquem os expropriados, e as batalhas judiciárias são evitadas.
O trator só vai apontar para uma direção com aviso prévio, dando tempo suficiente para os desapropriados reestruturarem suas vidas.

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