São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 1994
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Bienal mostra a arte conceitual do poeta espanhol Joan Brossa

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O celebrado poeta catalão Joan Brossa, 75, será a grande atração da representação espanhola na 22ª Bienal de São Paulo, que começa em outubro.
"Ele é muito excêntrico. Nunca viaja. Quando soube que era para o Brasil, ficou muito animado e disse que talvez venha fazer uma performance", disse à Folha a curadora Estrella de Diego, de passagem por São Paulo.
Próximo do pintor espanhol Tapiès e de João Cabral, e admirado pelos poetas concretos brasileiros, Brossa esteve no Rio pela primeira vez no ano passado, para uma palestra sobre poesia.
Começou sua obra poética e visual nos anos 40, sob influência do surrealismo, fundou o grupo Dau al Set em 48 e foi progressivamente fundindo palavra e imagem em "poemas objetos", chegando a expor recentemente 20 grandes instalações em Barcelona.
Por volta de 13 objetos representativos de toda a sua carreira poderão ser vistos na Bienal ao lado de obras de dois artistas espanhóis jovens: Ana Prada, 29, e Juan Luis Moraza, 34.
"Brossa representa uma expansão das tradicionais formas de arte, não apenas através da arte conceitual mas pela palavra", diz De Diego, que levou em conta a proximidade entre o poeta visual espanhol e os poetas brasileiros como um elemento suplementar ao escolher Brossa.
Os outros dois artistas selecionados seguem, segundo De Diego, pela via aberta por Brossa ao optarem por trabalhar com "a metáfora e a reapropriação de objetos da baixa cultura em armadilhas para o olhar, colocando o espectador como parte do jogo".
Cada um estará presente com quatro obras. Ana Prada, por exemplo, reapropria-se de objetos banais do cotidiano, montando esculturas minuciosamente construídas –como rolos de cabelo formando tranças ou sacos de papel espetados na parede.
"O trabalho é destruído após a exposição. Ele só dura o tempo da exposição. Se você quiser comprar a obra, por exemplo, ela própria tem que vir fazer a instalação e a obra fica lá para sempre –ou até ser destruída", diz De Diego.
Prada, residente em Valência, também faz esculturas muito pequenas e objetos mais conceituais, que poderão ser vistos apenas através de fotos.
O basco Juan Luis Moraza também se reapropria de materiais da baixa cultura de uma maneira ambígua, confrontando-os a um novo sentido ao agrupá-los em "diferentes camadas arqueológicas" em suas instalações ou colagens.
"Nos anos 90, todos procuramos quais serão as formas de arte que vão ficar. Uma outra solução à vanguarda seria um público que tomasse parte da obra. Nesses três artistas há uma perversão em relação ao público, uma subversão do olhar. Eles provocam um olhar mais participativo", diz De Diego.
A curadora da representação espanhola está preocupada sobretudo com obras que provoquem esse "olhar cúmplice", colocando em questão sentidos e significados habituais (papéis sexuais, sociais etc.) através de "associações surpreendentes".
Professora de história da arte contemporânea na Universidade Complutense de Madri, De Diego publicou recentemente um livro sobre as diferentes representações do poder a partir do sexo: "El Androgino Sexuado" (Visor).

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