São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 1994
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Premiê japonês fala em renúncia

TERRY MCCARTHY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

O primeiro-ministro japonês, Tsutomu Hata, indicou ontem que pode renunciar hoje. A medida visa resolver um impasse político que já dura dois meses e paralisou o governo desde sua formação.
Uma moção de desconfiança em seu gabinete foi registrada na Dieta (Parlamento) e seu partido estava em negociações com o Partido Socialista para impedir a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições.
O premiê, de 59 anos, expressou numa entrevista coletiva, sua frustração com o fato de as disputas interpartidárias impedirem o governo de formular políticas nacionais e internacionais coerentes.
"Encontramo-nos hoje numa situação extremamente difícil", disse Hata aos jornalistas, depois que o Parlamento finalmente aprovou o orçamento deste ano, quase três meses após o início do ano financeiro, em 1º de abril. "É tremendamente importante formarmos um governo forte para conseguirmos superar esta dificuldade".
O Japão luta para tirar sua economia da recessão. No exterior, confronta-se com a crise nuclear norte-coreana e a forte pressão dos EUA para reduzir seu superávit comercial.
Mas desde que o Partido Socialista abandonou o governo de coalizão de Tsutomu Hata, em abril, em protesto contra a formação de um bloco de direita, o primeiro-ministro vem presidindo um governo minoritário que não tem conseguido formular novas políticas. Uma trégua tácita permitiu que o Parlamento estudasse o orçamento anual, já atrasado, mas assim que ele foi aprovado, ontem, o Partido Liberal Democrata (PLD) registrou uma moção de desconfiança no governo de Hata.
"Eu gostaria de deixar tudo, incluindo a questão de minha renúncia, para as conversações sobre estratégias entre a coalizão e o Partido Socialista", disse Hata, visivelmente irritado, na entrevista.
É irônico que o homem que ajurou a reformar o sistema político japonês e a modelar um Japão mais responsável e mais ativo internacionalmente tenha que condicionar seu futuro aos socialistas.
O Partido Socialista ainda apóia a comunista Coréia do Norte, preterindo a Coréia do Sul; ainda se opõe a muitas das reformas eleitorais que Hata deseja introduzir e é contra qualquer revisão dos impostos. Mas para evitar a dissolução do Parlamento e a realização imediata de novas eleições –que teriam que ser feitas sob o velho sistema eleitoral–, Hata talvez seja obrigado a renunciar ao cargo de primeiro-ministro e permitir a formação de um novo governo.

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