São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 1994
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Começa a intervenção da França em Ruanda

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Começou ontem a Operação Turquesa, a intervenção militar francesa em Ruanda.
A "operação humanitária", como fazem questão de frisar as autoridades da França, tem o objetivo de salvar vidas e pôr fim ao massacre que, segundo estimativas extra-oficiais, já matou 500 mil pessoas em dois meses de guerra.
O governo francês garante que suas forças estão apenas preparando o terreno para tropas da ONU e que até final de julho seus soldados já estarão de volta à França.
A operação envolve cerca de 2.500 soldados. Nem todos haviam chegado ontem ao Zaire, país vizinho a Ruanda que está servindo de base aos franceses.
Cerca de 200 homens atravessaram a fronteira ontem em direção à cidade de Cyangugu, onde pretendem levar ajuda a mais de 8 mil pessoas da etnia tutsi.
O conflito começou em 6 de abril, após a derrubada do avião onde viajava o presidente Juvenal Habyarimana, da etnia hutu. Contra as tropas do governo está a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), da minoria tutsi.
Os rebeldes já controlam dois terços do país e por isso se opõem fortemente a qualquer intervenção estrangeira.
Os franceses são acusados pelos tutsis de terem sustentado, inclusive militarmente, o regime hutu.
A FPR diz não acreditar no caráter humanitário da operação. Acha que, cedo ou tarde, a França acabará favorecendo os hutus.
Por esse motivo, os rebeldes já avisaram que todo francês no país será considerado um inimigo. "Se nossas tropas se encontrarem com os franceses, haverá confronto", disse a FPR ontem.
Apesar das ameaças, o primeiro dia de intervenção foi relativamente tranquilo. De um modo geral, os franceses foram bem recebidos pela população local.
Mas o mais difícil ainda está por vir. Após tomarem posição, as tropas começarão a deslocar-se para o interior com o objetivo de formar uma "zona de segurança" que compreenderia boa parte do país.
A iniciativa francesa está sendo interpretada como uma forma de o país manter sua influência histórica na África.
Desde 1962 a França realizou 11 intervenções militares importantes em países africanos como Senegal, Gabão, Chade, Zaire, República Centro-Africana, Togo, Ilhas Comores, Uganda e Ruanda.
Os franceses partiram isolados para a operação, uma vez que nenhum outro país europeu resolveu enviar tropas para Ruanda. A Organização de Unidade Africana condenou a iniciativa.
Mas ontem o país conseguiu romper parte desse isolamento. A Itália anunciou que poderá fornecer algumas tropas, ainda que tenha feito muitas restrições.
O Senegal também pode enviar soldados, que ajudariam os franceses a remover milhares de pessoas que estão fugindo das cidades e se refugiando nas regiões fronteiriças.

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