São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Itamar quer intervenção para conter preços

SÔNIA MOSSRI e FERNANDO GODINHO

SÔNIA MOSSRI ; FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco está cobrando do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, uma "intervenção" do governo para evitar explosão de preços.
O presidente estuda a proposta de utilizar a Polícia Federal na fiscalização de preços.
Itamar tem dito a interlocutores do Grupo de Juiz de Fora –que reúne os seus auxiliares e amigos mais próximos– que é preciso uma "intervenção" do governo para acomodar os preços na passagem para o real.
Os assessores mais próximos ao presidente não definem o que seria essa "intervenção", mas a equipe econômica teme que o presidente da República esteja pensando em algum mecanismo de controle de preços.
O ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, sugeriu ao presidente delegar competência legal à Polícia Federal para fiscalizar preços.
Além de preocupado com a irritação de Itamar com a alta de preços, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, enfrenta uma crise com o presidente do Banco Central, Pedro Malan, e o com o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco.
Tanto Malan quanto Franco querem independência do Banco Central para executar a política de juros após o real. Ambos avaliam que é imprescindível para o sucesso do programa uma política de juros elevados.
O ministro da Fazenda discorda dos dois assessores e também não abre mão de comandar pessoalmente a política de juros após a criação do real, em 1º de julho. Ele sabe que Itamar somente tolerá alta de juros em julho.
Este foi o acordo feito entre Ricupero e Itamar, que deu ao ministro um prazo de 30 dias para que o plano econômico apresentasse resultados visíveis contra a inflação.
Ricupero concordou com o prazo porque acredita no sucesso rápido do plano, o que lhe dará forças para conter as pressões do Palácio.
Ainda no primeiro mês do real, Ricupero terá que definir o reajuste do funcionalismo público, que o presidente quer anunciar até o final de julho. A idéia é que o aumento incida sobre os salários de agosto.
O presidente não está gostando da atitude da equipe econômica em sempre evitar uma solução para o salário do funcionalismo público e, em especial, dos militares. Ele e o Grupo de Juiz de Fora reclamam do "tecnicismo" da equipe.
Itamar tem se queixado aos líderes do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), e no Senado, Pedro Simon (PMDB-RS), das reclamações feitas nos bastidores pelos principais assessores de Ricupero de que o próprio presidente é um fator de risco para o plano de estabilização.
Em conversas reservadas com seus assessores mais próximos, o ministro da Fazenda mostra-se apreensivo com o temperamento imprevisível do presidente Itamar.
A equipe da Fazenda teme que a pressa de Itamar acabe resultando na volta do controle de preços generalizado sobre a economia, ao lado da fixação de taxas de juros muito baixas. Nesse caso, a maior parte da equipe desembarcaria do governo Itamar.
A proposta de Dupeyrat do emprego da Polícia Federal para fiscalizar preços não agrada à Fazenda. Itamar gosta da idéia da Polícia Federal ter competência legal para fiscalizar preços, atuando em conjunto com a Secretaria Nacional de Direito Econômico e o Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico).
Segundo a Folha apurou, as lideranças do PFL e do PSDB também receiam que o presidente da República exija da equipe econômica alguma forma de controle de preços.
Por isso mesmo, o candidato da aliança PSDB-PFL-PTB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, passou a se reunir semanalmente com Itamar no Planalto. FHC tenta tranquilizar o presidente sobre o programa econômico.

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