São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Massagista de craque mofa na prisão

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O massagista profissional Lupércio Fernandes Lima não foi à Copa de 1958, na Suécia, "por causa da maconha e de um anel de ouro", nas suas palavras. Perdeu a grande chance de sua vida, a de ser campeão mundial.
Mas também não foi o esporte que o ajudou a conquistar seus dois recordes. Aos 76 anos, Lupércio é o preso mais velho na Casa de Detenção de São Paulo. Foi também quem mais deu entrada na prisão: ao todo 17 registros.
Em 1952, começou sua carreira como massagista do São Paulo Futebol Clube. Passaram pelas suas mãos craques como Poy, De Sordi, Alfredo Ramos, Pé de Valsa, Bauer, Maurinho e Rui Campos. Ficou no clube até 1958, quando começou a integrar a equipe da seleção brasileira de basquete.
Ainda em 1958, Lupércio foi com a seleção de basquete para o Chile. Lá, ganhou um anel de ouro "de 25 gramas, dado pelos jogadores Amaury e Vlamir", lembra.
A jóia, burilada por um índio, tinha trabalhadas em ouro a porta de uma igreja católica, uma caveira, dois ossos e duas palavras astecas. "Quando cheguei ao Brasil, me meti numa briga. O delegado que me prendeu fez olho grande no meu anel. Como não dei a jóia, fiquei preso", lembra Lupércio.
Enquanto estava na cadeia, recebeu a notícia de que integraria a seleção brasileira de futebol, como massagista, ao lado de seu lendário amigo Mário Américo. "Perdi a seleção porque estava preso."
O massagista acabou perdendo o anel de ouro dois meses depois, num lugar chamado Lagoa Azul, sobre o qual, na década de 70, seria construído o parque Anhembi (zona norte). "Perdi a jóia que me custou tão caro porque fui nadar lá queimando um daqueles cigarros que te levam para a Lua, junto com astronautas russos e americanos", ironiza.
A maconha acabou enterrando a carreira de Lupércio, que ainda conseguiu ser massagista doe futebol do Juventus e do Nacional.
Chances de se recuperar, pondera Lupércio, não faltaram. "Eu vendia maconha no centro. O Vicente Feola, primeiro campeão mundial do Brasil ia atrás de mim para me recuperar. Mas eu me escondia e fugia dele."
Lupércio hoje cumpre pena de sete anos por tráfico de maconha. Foi preso pela última vez em 91, quando levava um lote de "20 parangos de maconha" (um parango são 10 gramas da droga).

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sobre o recordista da Detenção na pág.3

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