São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Debate propõe saídas para trabalho infantil

DA REPORTAGEM LOCAL

A discussão de soluções para erradicar o trabalho infantil e garantir os direitos dos adolescentes que trabalham marcou a primeira palestra da série "Meninos de Rua", realizada pela Folha no dia 22 deste mês.
Participaram da discussão, no auditório do jornal, o presidente da Fundação Abrinq, o empresário Oded Grajew, e Marise Egger, conselheira da fundação e assessora para a área de trabalho infantil da Secretaria Estadual da Família e Bem Estar Social.
Entre as soluções discutidas, ganhou destaque a proposta de o poder público intermediar a contratação de adolescentes que estudam, entre 15 e 18 anos, por empresas, a exemplo do que vem sendo feito pela prefeitura de Santos (72 km a sudeste de São Paulo).
Também foram debatidas formas de incentivar projetos como o "Nossas Crianças", da Fundação Abrinq, que recebe doações de empresários e auxilia crianças carentes, impedindo que elas deixem a escola para entrar no mercado de trabalho informal.
Os participantes do debate destacaram a gravidade do problema da infância no país, lembrando que quatro crianças são assassinadas por dia no Brasil e que, no ano passado, aumentou o índice de mortalidade infantil.
Grajew lamentou que o Brasil seja o terceiro país do mundo com a maior evasão escolar, perdendo apenas para a Guiné-Bissau e para o Haiti.
"É um absurdo que países com renda per capta menor, tenham indicadores sociais melhores. Falta vontade política e mobilização, a elite brasileira tem que tomar vergonha disso", disse Grajew.
O empresário criticou a idéia de que é melhor dar trabalho para crianças menores de 14 anos, evitando que elas fiquem na rua "a mercê dos traficante de droga".
"Nós achamos que o lugar da criança é na escola", defendeu.
Para resolver o problema, Grajew diz ser necessário "se mobilizar para que todos os níveis governamentais, o Judiciário e o Legislativo, tenham como prioridade a criança."
O empresário destacou ainda a importância da sociedade civil no combate ao trabalho infantil.
Ele lembrou que, no Brasil existem 60 fundações empresariais que atuam na área social. Nos EUA, onde as carências sociais são bem menores, existem 32 mil.
"Os empresários americanos e italianos aplicam mais dinheiro nas nossas crianças que os brasileiros", afirmou.
Em sua palestra, Marise defendeu uma solução intermediária entre os que defendem uma flexibilização da legislação que permita que as crianças trabalhem, se afastando das ruas, e outra que, simplesmente, proíbe o trabalho.
"As duas não pensam em soluções concretas, práticas e imediatas para as crianças que já estão trabalhando. A discussão está polarizada. Assim, é impossível discutir políticas sociais", disse.
Segundo Marise, trabalham no Brasil 3 milhões de crianças de 10 a 14 anos e 5 milhões de adolescentes. Entre as crianças, 50% não recebem nenhuma remuneração. As outras 50% recebem, em média, 30% de um salário mínimo.
Ela também apresentou números sobre a escolaridade das crianças que trabalham. Em 89, havia 4,4 milhões de crianças fora da escola com idade entre 7 e 14 anos. Apenas 15% dos adolescentes chegam a completar a 8ª série.

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