São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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EUA aliam prazer e disciplina

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

O segredo da seleção dos EUA tem nome. Chama-se Bora Milutinovic, 49, nasceu na ex-Iugoslávia e conseguiu colocar na segunda fase da Copa 94 um time que todo mundo tratava como vira-lata há duas semanas.
Bora, como é chamado, disse em entrevista à Folha que não há segredo algum no seu trabalho.
"Isso aqui não é um trabalho para mim. É um prazer. Talvez por isso tenha dado bons resultados".
Com esse "prazer", Bora e seu time já entraram para a história do futebol nos EUA. Venceram na semana passada a Colômbia, que Pelé considerava favorito na Copa, por 2 a 1. Há 44 anos os EUA não venciam um jogo em Copa.
Os jogadores dão algumas pistas de como Bora trabalha.
"Ele é mais ou menos como o Yoda", define o zagueiro Alexi Lalas, 24, referindo-se ao personagem mais filosófico de "Guerra nas Estrelas", de George Lucas.
Bora também gosta de tiradas filosóficas. No intervalo do jogo contra a Colômbia, na última quarta, escreveu na losa em latim: "Carpe Diem" (Aproveite o dia).
A frase é do poeta Horácio, que viveu no século 1 d.C., e aparece no filme "Sociedade dos Poetas Mortos".
Foi com truques como esse que Bora levou o México ao 6º lugar na Copa de 86 e a Costa Rica à segunda fase na de 90.
Anteontem, depois do treino dos EUA, Bora explicou à Folha como trabalha e exibiu o que os jogadores consideram uma de suas principais qualidades: carisma.

Folha - Há dez dias todo mundo dizia que os EUA eram uma das piores seleções desta Copa e hoje vocês já estão na segunda fase. Qual o segredo?
Milutinovic - É muito fácil falar que um time é o pior do mundo, mas em futebol podem acontecer coisas que ninguém imagina. O que importa é o que o time faz no campo.
Folha - Então, não tem segredo nenhum?
Milutinovic - As pessoas falam em segredo, mas trabalho as coisas que para mim são normais. Minha relação com os jogadores é uma das coisas mais importantes.
Folha - Como o sr. trabalha?
Milutinovic - Primeiro, isso aqui não é um trabalho para mim. É um prazer. Frases como "Carpe Diem" servem para fortalecer o espírito de equipe.
Gosto muito de compartilhar com os garotos esse espírito e ser muito sincero. Talvez por isso tenha dado resultados muito bons.
Folha - O que você ensinou aos jogadores dos EUA?
Milutinovic - Eles são muito disciplinados, respeitosos e isso é muito importante em futebol.
Folha - A disciplina seria a principal qualidade do time?
Milutinovic - Disciplina faz parte da nossa equipe, mas só disciplina não ganha jogo. Temos outras virtudes.
Folha - Quais?
Milutinovic - Jogamos muito bem taticamente, sabemos ocupar o campo, tocar a bola.
Folha - Parreira, o técnico do Brasil, disse que esta seria a Copa de times defensivos e de contra-ataques. O sr. acha que o futebol ofensivo morreu?
Milutinovic - Respeito o que o técnico do Brasil disse, mas cada seleção joga com as qualidades que tem. O Brasil não pode jogar como nós jogamos e vice-versa.
Acho que neste mundial a diferença entre as equipes não é grande. Não é nada muito espetacular, mas é o que temos nesta década.
Folha - Qual é a seleção favorita para vencer a Copa 94?
Milutinovic - A seleção favorita é o Brasil porque tem os melhores jogadores do mundo. Agora precisam mostrar no campo que são os melhores mesmo.
Folha - Os resultados de sua seleção são suficientes para popularizar o futebol nos EUA?
Milutinovic - Tudo depende do que virá. Eles precisam organizar uma liga profissional. Copa é uma coisa passageira.
Folha - Qual é o sonho do sr. para esta Copa?
Milutinovic - Meu sonho é ser campeão e jogar contra o México. Mas é só um sonho.
Folha - É verdade que o sr. ganha US$ 650 mil por ano?
Milutinovic - A verdade é que ganhei US$ 650 mil em três anos e meio nos Estados Unidos.

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