São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Campeão da desigualdade

Vivendo há anos na corda bamba de uma inflação que parece não ter fim, é natural que o país centre suas atenções neste tema. As mazelas da miséria e suas multiplas formas de manifestação, entretanto, ressurgem invariavelmente toda vez que se tenta enxergar o Brasil.
Procurando contribuir para que nesta campanha eleitoral sejam discutidos programas e saídas para os graves problemas nacionais, a Folha traz hoje o terceiro caderno da série "Brasil 95", sobre crise social.
Violência urbana, analfabetismo, exploração de crianças, miséria compõem um triste quadro. Lamentável, inaceitável, revoltante até, mas aparentemente ignorado por boa parte dos governantes.
Do ponto de vista dos partidos que concorrem às eleições de 3 de outubro, diferentes propostas parecem ter a sua lógica, mas dúvidas inevitavelmente persistem. Dúvidas quanto à eficácia das políticas, quanto ao seu realismo –nos casos em que se quantificam as metas de um eventual governo–, e mesmo quanto à sinceridade dos proponentes. Afinal, os quase unânimes compromissos sociais sempre apregoados pelos candidatos muitas vezes não encontram respaldo na história de suas administrações passadas ou de seus partidos.
O Brasil tem um parque industrial que se vem modernizando, mas tem mais de 50 milhões de analfabetos funcionais –adultos com menos de 4 anos de instrução. Nas grandes cidades do país, podem-se obter serviços similares aos encontrados em qualquer parte do Primeiro Mundo, mas 32 milhões de brasileiros vivem no estado de miséria absoluta. Graves distorções existem na maior parte das nações, mas, entre elas, o Brasil lidera o ranking de desigualdade.
De "questões sociais" como essas depende a viabilidade mesma do país no futuro, pois o ser humano instruído é o principal fator de progresso. Uma nação semi-analfabeta que carrega dezenas de milhões de miseráveis corre o risco de estar desqualificada para a modernidade.

Texto Anterior: Milhões de economistas
Próximo Texto: Tortura sem pena
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.