São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Imprensa

JOSÉ DE FILIPPE JR.

"Ninguém nega que a greve seja um mal. Se o trabalho é um bem em si, sua negação, como é a greve, não pode deixar de ser um mal. Por diferentes que sejam seus tipos e seus motivos. Apenas, é um desses males, necessários e inevitáveis, que representam o preço da liberdade. Uma Felix Culpa. Um valor negativo, como instrumento de um valor positivo, essencialmente superior. Além de constituir uma das diferenças capitais entre os regimes democráticos e totalitários".
(Alceu Amoroso Lima, "A Filosofia da Greve", artigo publicado em 1979 na Folha de S. Paulo).

Não posso deixar de recorrer a uma reflexão do doutor Alceu sobre as greves do ABC de 1978/79, justamente porque a ocupação, por três dias, da Sabesp em Diadema, que apoiei e participei, tem por trás a questão da ineficiência dos serviços estaduais de saneamento, montados de forma autoritária nos tempos do regime militar.
Em matéria publicada no sábado (18/6) nos principais jornais do país, a Sabesp me acusa de truculência. É preciso dizer que há mais de um ano Diadema espera que a Sabesp repasse os serviços de água e esgoto para uma gestão municipal. Desrespeitando a Constituição, que permite ao município conceder e retirar o direito da Sabesp de prestar esses serviços, a empresa estadual fez voltar contra si a insatisfação popular.
Hoje existem mais de cem municípios em todo o Brasil que querem municipalizar o saneamento, que pretendem agilizar e baratear esses serviços, seguindo uma tendência mundial, que é a de descentralizar a administração pública.
Diadema é a cidade onde o processo de municipalização está mais adiantado.
O mau exemplo dado pela Sabesp em Diadema é razão suficiente para a municipalização do saneamento. Basta lembrar que a tarifa de água em nossa cidade é 200% mais cara que nos municípios vizinhos, onde o saneamento é municipalizado.
A Sabesp recolhe mensalmente em Diadema quase US$ 1 milhão, já descontadas as despesas de manutenção. Em contrapartida não investem em melhoramentos há cinco anos.
A Sabesp precisa continuar existindo, mas de outra forma. Precisa deixar de ser campeã de reclamações no Procon, de ser suspeita de utilização de "caixinha" para candidatos, de ser o exemplo de ineficiência.
Foi para encobrir essa triste realidade e o desrespeito a toda a cidade que a Sabesp gastou muito dinheiro com matéria paga nos principais jornais, usando como testa de ferro uma entidade mantida com dinheiro dos funcionários da própria empresa estadual de saneamento. Diante disso, não me importo de ter sido chamado na referida matéria como "moleque de rua". Se a ocupação do escritório da Sabesp foi um mal pequeno, talvez eu tenha uma culpa, uma "culpa feliz", como dizia o saudoso doutor Alceu.

Texto Anterior: Pará 1; Pará 2; Pará 3; Pará 4
Próximo Texto: LIVROS JURÍDICOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.